Em um evento com mais de 400 pessoas entre funcionários e parceiros de tecnologia, o Magazine Luiza informou, oficialmente, que terá um serviço de computação em nuvem – o anúncio já havia sido vazado pela própria Luiza Helena Trajano, há mais de duas semanas, sem fornecer detalhes.

Batizado de Magalu Cloud, o serviço segue em linha com o que empresas como Amazon (AWS), Microsoft e Google já fazem há anos nessa área, mas quer se posicionar como uma plataforma brasileira de nuvem, mais barata e voltada às pequenas e médias empresas brasileiras.

“A gente não vem concorrer, estamos somando”, disse Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. “Se tudo der errado, vou ter uma cloud barata e complementar a dos meus concorrentes internacionais, mas estou confiante”, complementou Frederico Trajano, CEO da rede varejista.

O Magalu Cloud vai ser lançado gradativamente ao longo de 2024. O plano é oferecer serviços de armazenamento, computação, rede, banco de dados, firewalls e inteligência artificial.

O primeiro deles será o de armazenamento, cuja oferta estará disponível de forma geral no primeiro trimestre de 2024. “Vamos fazer isso (lançamento de serviços) com cautela para atender à demanda de forma razoável”, afirmou Christian Reis, chefe da Magalu Cloud.

A companhia não quis fazer projeções sobre a demanda, nem quanto esse novo serviço pode impactar na receita da rede varejista ao longo dos próximos anos. O investimento ficou dentro capex que a companhia vem fazendo nos últimos anos. “E tecnologia é uma parte considerável desse capex”, disse André Fatala, vice-presidente de tecnologia do Magazine Luiza.

Atualmente, 80% da infraestrutura do Magazine Luiza já está na nuvem, sendo que 30% dela já roda dentro da própria operação de computação em nuvem que vai começar a ser ofertada para as empresas em 2024.

A companhia tomou a decisão de tornar pública sua estratégia de computação em nuvem, que vem sendo gestada internamente desde 2020, depois da Black Friday, onde parte dos serviços foram testados e não tiveram problemas de instabilidade ou de queda.

O desafio do Magazine Luiza será escalar uma nova oferta de serviços em um mercado que tem três players dominantes e globais – AWS, Microsoft e Google. E que, com isso, conseguem dar escalar à plataforma.

Durante sua apresentação, Frederico Trajano tentou se “vacinar” dessa análise, lembrando que a companhia sempre foi criticada por investir em e-commerce (quando boa parte do varejo não fazia isso) e criar um marketplace para vender produtos de terceiros.

No caso do marketplace, o CEO do Magazine Luiza citou que começaram com 100 sellers e que, hoje, são mais de 300 mil sellers que utilizam a plataforma, que contribuiu com 75% da movimentação financeira da companhia.

“O vira-latismo sempre volta”, disse Trajano, em uma referência ao complexo de vira-lata, termo cunhado pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, de que o brasileiro prefere o que vem do exterior. “Por que o Brasil tem de ser o país só do agro?”

A área de computação em nuvem é mais uma que o varejo brasileiro - assim como o Magazine Luiza - segue o modelo que foi criado pela Amazon.

A companhia fundada por Jeff Bezos começou como uma empresa de e-commerce mais foi, pouco a pouco se diversificando e atuando em diversas áreas. Entre esses serviços estão a parte de marketplace, de publicidade digital, logística e serviços financeiros.

Mercado bilionário

Segundo dados da McKinsey, os serviços de computação em nuvem movimentaram R$ 38,3 bilhões no Brasil em 2022. Em 2025, a projeção da consultoria é que atinjam R$ 90,8 bilhões.

De acordo com Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail, a visão estratégica do Magazine Luiza é se tornar um ecossistema de plataforma e serviços, que envolvem marketplace, logística, serviços financeiros e tecnologia – sendo que este último item é considerado core e estratégico para a rede varejista.

“É uma aposta ambiciosa e ousada. Mas o mercado existe”, afirma Serrentino, lembrando que na área de infraestrutura tecnológica existem três grandes empresas. “E são negócios globalizados e de escala.”

Para tentar “comer pelas beiradas”, a estratégia do Magazine Luiza é de que não vai entrar numa estratégia de rouba-monte, em que vai tentar pegar os clientes desses rivais globalizados.

O objetivo é capturar clientes pequenos e médios com preço em reais e idioma em português. “E a nossa proposta de valor é de ter sempre um preço mais barato”, diz Reis, que chefia o Magalu Cloud.

Varejo brasileiro em dificuldades

O lançamento do Magalu Cloud acontece em meio a um momento em que o varejo brasileiro, em especial aquele voltado para o de eletroeletrônicos, passa por dificuldades.

No terceiro trimestre de 2023, o Magazine Luiza teve lucro líquido de R$ 331,2 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 190,9 milhões do mesmo período de 2022. Mas isso aconteceu por conta do reconhecimento de um crédito tributário.

No critério ajustado, desconsiderando créditos tributários reconhecidos neste trimestre, foi registrado prejuízo de R$ 143,4 milhões, queda de 14,7% ante o prejuízo ajustado do terceiro trimestre de 2022.

A receita líquida da varejista caiu 2,6% no comparativo anual, para R$ 8,5 bilhões. As vendas totais, que incluem lojas físicas, digitais e marketplace (com vendas de produtos de terceiros), cresceram 4,8% entre julho e setembro, somando R$ 14,8 bilhões.

Na ocasião dos resultados de seu terceiro trimestre, o Magazine Luiza divulgou também que fez um ajuste total de R$ 830 milhões no patrimônio líquido (PL) ao final de junho. O valor corresponde a 8,3% do PL da empresa.

Nesta terça-feira, 12 de dezembro, as ações do Magazine Luiza estão subindo quase 2% na B3. O valor de mercado da companhia é de R$ 15,2 bilhões. No ano, os papéis caem mais de 17%. Desde o pico de janeiro de 2021, a rede varejista desvalorizou quase 90%.