O ano era 1957. Na época, Luiza Trajano Donato, recém-casada com Pelegrino José Donato, decidiu investir suas economias acumuladas durante anos trabalhando no varejo para criar seu próprio negócio: nascia a loja de presentes A Cristaleira.

Nos anos seguintes, o pequeno comércio no centro de Franca, interior de São Paulo, expandiu suas fronteiras, inclusive na própria família Trajano. Rebatizado de Magazine Luiza, ganhou corpo sob o comando da sobrinha Luiza Helena Trajano e, posteriormente, de seu filho, Frederico Trajano.

Luiza Trajano Donato foi, porém, o nome essencial ao dar o pontapé nessa trajetória. Ela faleceu nesta segunda-feira, 12 de fevereiro, aos 97 anos, em Franca. A informação foi divulgada pelo Magazine Luiza, em comunicado no qual a rede enaltece o pioneirismo de sua fundadora, nascida em uma família de comerciantes.

“Em uma época em que as mulheres eram criadas para se dedicarem, exclusivamente, à casa e à família, ela ousou ao batalhar para realizar o sonho de empreender”, ressaltou a empresa, na nota.

A varejista ressalta outros “feitos” de Luiza Trajano Donato. A começar pela mudança do nome da loja para Magazine Luiza. A decisão foi influenciada pelos próprios fregueses do estabelecimento, que a consideravam a melhor vendedora da cidade.

Ao destacar sua “energia quase inesgotável para o trabalho”, a rede aponta que Luiza entendia que cada cliente deveria ser tratado como alguém especial e como a razão de ser do negócio. E acrescenta que muitos dos valores que hoje regem a empresa são reflexo do seu jeito de pensar e agir.

Para ilustrar essas características de sua fundadora, o Magazine Luiza recorreu à fala de Luiza aos funcionários quando a rede abriu 50 lojas simultaneamente na capital paulista, em 2008. Na ocasião, ela reforçou o pedido para que todos atendessem os fregueses da melhor maneira possível.

“Sem olhar se ele é branco, preto, pobre, rico, bonito ou feio. Atender com todo carinho, não importa se um esteja usando salto e outro chinelo de dedo. Atender com educação, não tapear o cliente, não mentir de jeito nenhum", disse ela, naquela oportunidade.

Com esses valores em mente, Luiza comandou o negócio até o início da década de 1990, quando escolheu a sobrinha Luiza Helena Trajano como sua sucessora. Na época, a empresa concentrava sua atuação nas categorias de móveis e eletroeletrônicos, com lojas em São Paulo e Minas Gerais.

Sob o comando da sobrinha Luiza Trajano, sucedida, posteriormente, por seu filho Frederico Trajano, o Magazine Luiza avançou para outros segmentos e geografias, dando sequência ao legado deixado pela empreendedora.

A varejista abriu capital em 2011, alcançou a escala de mais de 1,3 mil lojas e fincou seus pés no digital, ao desenvolver tanto uma plataforma própria de e-commerce e um marketplace. E, hoje, está avaliada em $$ 14,8 bilhões.

"Hoje, com muita tristeza, nos despedimos da Tia Luiza, uma das maiores referências da minha vida, pelo seu exemplo de força, trabalho e determinação! Obrigada por tudo! Te amo, Tia!", escreveu Luiza Helena Trajano, que atualmente preside o conselho de administração da companhia, em postagem feita no início da tarde, no X.

Luiza Trajano Donato nasceu em 20 de setembro de 1926 em Cristais Paulista, também no interior de São Paulo. E faleceu aos 97 anos, de causas naturais, em Franca, a cidade que foi o berço para que o Magazine Luiza construísse sua história.