O mercado entrou em “modo pânico” com a Ambipar nesta quinta-feira, 2 de outubro, derrubando as ações da companhia diante dos indícios de que sua situação financeira seja pior do que o imaginado.
Por volta das 16h42, as ações da Ambipar registravam queda de 66,2%, a R$ 2,41. No ano, os papéis acumulam baixa de 80%, levando o valor de mercado da companhia para R$ 4 bilhões.
As suspeitas surgiram quando investidores começaram a esmiuçar as contas da empresa, após a diretoria solicitar tutela cautelar à Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), diante do risco de um rombo financeiro de quase R$ 11 bilhões.
Inicialmente, analistas e gestores não entendiam a medida, já que a empresa havia informado, no segundo trimestre, possuir R$ 4,7 bilhões em caixa e aplicações financeiras, sendo mais de R$ 2 bilhões com disponibilidade imediata.
Esse montante seria suficiente para cobrir a cobrança de garantias adicionais feita pelo Deutsche Bank, referente a um empréstimo de US$ 35 milhões. No entanto, o pedido judicial levantou suspeitas, e novas informações apontaram para um cenário mais complexo, com sérias questões de governança corporativa.
Na noite de quarta-feira, 1º de outubro, o site Pipeline revelou que um FIDC, contabilizado como caixa da Ambipar e responsável por quase metade do valor, registrou perdas na rentabilidade e movimentações antes do pedido de proteção.
A reportagem indica que o fundo envolve partes relacionadas, com os principais cedentes sendo uma empresa ligada a Guilherme Borlenghi — filho do controlador Tércio Borlenghi e diretor operacional da Ambipar — e à diretora-adjunta Luciana Nascimento.
A informação, somada à suspeita de que o caixa real seria de apenas US$ 80 milhões, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, gerou uma crise de confiança e derrubou as ações no pregão.
“Ficou claro que não tem caixa”, afirmou um gestor ouvido pelo NeoFeed, que mantém posição vendida na empresa. Segundo ele, ao ser questionada sobre o caixa, a Ambipar respondia que estava em um FIDC. “Mas cadê o caixa do FIDC?”, questiona. “A empresa ainda vale bilhões. Não caiu nada. O mercado entrou em desespero.”
Uma fonte que acompanha de perto o desenrolar do caso Ambipar justificou que a queda expressiva das ações se deve a um credor vender sua posição, que “eram garantias de um empréstimo que fizeram na física para o acionista.”
“A Ambipar hoje é um problema de seu controlador e dos credores”, diz essa fonte. “Estão vendendo para garantir algum dinheiro, antes que vire pó.”
Outra gestora, que já saiu da Ambipar, diz que se reuniu duas vezes com o management da Ambipar. "Percebi que não tinha governança e resolvemos sair", diz o sócio dessa gestora.
A gestora vendeu sua posição por um preço médio de R$ 6 (preço anterior ao desdobramento das ações na proporção de 1 para 10 de agosto deste ano), antes do rali que fez as ações dispararem quase 900% no ano passado. "Não fiquei com dor de corno, pois fiz o que tinha de fazer. Tinha alguma coisa errada ali", afirma esse gestor.
Em relatório, a área técnica da CVM informou que a alta foi provocada por compras maciças de ações em operação envolvendo Tércio Borlenghi, Nelson Tanure e o Banco Master. Houve discussão sobre uma possível OPA por formação de bloco, mas o colegiado da autarquia decidiu que não era necessário.
Um gestor acredita que esse histórico também contribui para a queda atual, afirmando que a alta foi inflada artificialmente. “A empresa saiu de R$ 1,5 bilhão para mais de R$ 32 bilhões no ano passado. Nem a Nvidia teve um salto assim”, disse.
Procurada pelo NeoFeed, a Ambipar informou que não comentaria. O empresário Nelson Tanure também declarou que não iria se manifestar, enquanto o Banco Master não respondeu aos pedidos de posicionamento até a publicação desta matéria.