Fundado em outubro de 1959, por sete amigos, o Grupo Herval nasceu como uma madeireira na pequena Dois Irmãos (RS), um distrito de São Leopoldo que, apenas 20 dias antes, havia se emancipado. Com o tempo, assim como a sua cidade natal, a companhia também ganhou outro status.
O negócio deu origem a um “pequeno” império de 14 empresas e 26 marcas. De uma indústria química até fábricas de móveis e colchões. Passando por áreas como varejo e serviços, com consórcios, seguros e tecnologia. E cuja faceta mais conhecida além dos Pampas é a iPlace, maior revendedora da Apple na América Latina.
Com esse modelo e um faturamento de mais de R$ 3 bilhões, parte de seus 6,3 mil funcionários costuma brincar que o Herval pode criar um negócio num piscar de olhos. Exageros à parte, os próximos passos sob essa ótica já estão definidos: a estreia em franquias, uma nova fábrica e uma captação de recursos.
“Muitos dos nossos negócios foram pensados e planejados, mas outros tantos surgiram de oportunidades”, afirma José Agnelo Seger, CEO do Grupo Herval, em entrevista ao NeoFeed. “E, nesse balanço, nem todos serão grandes. Mas é essa diversidade que nos sustenta em épocas não tão favoráveis.”
Aos 70 anos, o empresário conhece bem os altos e baixos dessa trajetória. Filho de Felippe Seger Sobrinho, um dos sete amigos fundadores da companhia, ele gosta de dizer que é o funcionário “número nove” do grupo, onde ingressou oficialmente aos 18 anos.
Um dos representantes da segunda geração da família Seger, clã que assumiu gradativamente o controle da companhia, ele está no comando da operação há três décadas. E dá mais detalhes sobre as novas peças que vão se encaixar no já extenso quebra-cabeças do grupo.
A incursão em franquias envolverá, para não perder o costume, uma nova “bandeira”, batizada de Volis. Sob o conceito de multimarcas, ela será centrada inicialmente em colchões e nas marcas próprias do Herval nessa categoria. Entre elas, a Hauzestern, recém-lançada e com foco mais premium.
“A ideia é ter um mix bastante robusto e fugir da disputa de preços na categoria”, diz Seger, que também cita o plano de reforçar a conexão do braço industrial com o consumidor na ponta, além de outro racional. “Num segundo momento, podemos avançar com outras marcas premium.”
Sem dormir no ponto, o Herval não descarta firmar acordos de licenciamento para fabricar colchões de marcas estrangeiras em suas instalações e incluí-los no sortimento da Volis. Ele revela que já há algumas tratativas nesses termos.
Enquanto busca essas parcerias, o grupo programa o início do projeto-piloto da Volis para março de 2024. O pontapé será dado, porém, com lojas próprias, começando pelo Rio Grande do Sul e São Paulo. A estimativa é de um aporte de cerca de R$ 10 milhões nessa safra e fechar o ano com até 10 unidades.
Ao mesmo tempo, o Herval já tem negociações com interessados nas franquias e está formatando o plano de negócios que será ofertado a esses parceiros. E um dos grandes apelos desse pacote passa justamente pela conexão com outros negócios do seu ecossistema.
Essa abordagem pode envolver desde equipamentos e serviços da HT Solutions, empresa de tecnologia do grupo que atua no B2B, até a HS Movere, companhia de transportes e logística. Juntamente com o acesso a crédito e a outras modalidades por meio da HS Financeira.
Ao viabilizar a compra de iPhones nas mais de 140 lojas da iPlace, entre outros negócios do Herval, a HS Financeira será um dos principais destinos de outro movimento. Até o fim de 2023, o grupo vai estruturar seu primeiro FIDC, com o plano de captar entre R$ 250 milhões e R$ 350 milhões.
As novidades não estão restritas ao varejo e aos serviços. Na indústria, a empresa gaúcha vai avançar em mais uma etapa da sua agenda de verticalização com uma nova fábrica de fibras de poliéster, em Dois Irmãos. Até então, o insumo, usado em colchões e estofados, era importado pela companhia.
Com início de operação neste mês e um primeiro aporte de cerca de R$ 5 milhões, a nova unidade terá capacidade de fabricar tanto a matéria-prima em questão como itens acabados – travesseiros, por exemplo. Na largada, entre 40% e 50% da produção já estão “contratados” pelo próprio grupo.
“Vamos abrir o excedente para o mercado, como já fazemos com outros insumos”, conta Seger. “Nesse caso, podemos atender confecções, fabricantes de móveis e, num estágio adiante, a indústria calçadista.”
Dos Pampas aos EUA
Dentro da tese de distribuir seus ovos em diversas cestas, Seger diz que a indústria é o segmento de maior contribuição na última linha do balanço do Herval. E tem sido um bom contraponto à fase mais conturbada vivida pelo varejo, que responde por cerca de 70% do faturamento da empresa.
Em 2023, diante desse contexto, o grupo fechou 17 lojas da taQi, rede de materiais de construção e eletrodomésticos, entre outros itens. Em contrapartida, um exemplo favorável no portfólio veio da HS Consórcios, que antecipou em um ano a meta de alcançar um volume de R$ 20 bilhões em vendas.
Ao mesmo tempo, essa estratégia de empilhar diversos negócios comporta o risco de iniciativas que acabam não vingando. Esse foi o caso do banco digital atrelado a HS Financeira. O projeto começou a ser desenvolvido há quatro anos, mas ficou pelo caminho, à medida que não trouxe o resultado esperado.
Com o risco diluído justamente por sua diversificação, o Herval não reduz, porém, seu apetite por novas oportunidades em função de eventuais “fracassos”. E um dos exemplos mais recentes de que essa abordagem está mantida veio de fora do Brasil.
O grupo inaugurou a primeira loja da Uultis, sua marca de móveis de alto padrão, nos Estados Unidos. Instalada em uma área de 230 metros quadrados, no número 200 da Lexington Avenue, em Nova York, a unidade abriu suas portas em outubro, como um teste inicial dessa operação no mercado americano.
Além de mostrar que a busca por novas fronteiras não está restrita ao Brasil - entre outros negócios, o Herval já exporta móveis para outros países e tem uma iPlace no Uruguai -, a iniciativa revela que a terceira geração da família Seger, que controla 95% do grupo, começa a ganhar mais espaço.
O “sonho americano” da Uultis foi idealizado e está sendo tocado por Rodrigo, sobrinho de Seger. Ele é um dos quatro representantes da ala mais nova do clã, ao lado dos três filhos do CEO da Herval, que também ocupam cargos de vice-presidente na companhia.
“Já estamos preparando a sucessão e essa terceira geração tem capacidade de assumir o negócio”, diz Seger. Ele ressalta, porém, que esse processo não está limitado aos membros do clã. “A tendência é os Seger irem mais para o conselho. Mas sempre teremos esse olhar familiar.”