Pouco mais de um ano atrás, a combinação entre a 3R Petroleum e a Enauta Participações resultou na criação da Brava Energia, que atua na exploração e produção de petróleo, com enterprise value combinado de aproximadamente R$ 20 bilhões.

Neste período, a Brava Energia formou um novo bloco de acionistas. Agora, começa a entregar seus primeiros resultados operacionais. Com produção em patamar recorde, a empresa mira seu principal objetivo no segundo ano de vida: reduzir a alavancagem.

“Com o atual nível de produção, estamos gerando recursos para reduzir a dívida”, diz Décio Oddone, CEO da Brava Energia, ao NeoFeed. “Esperamos encerrar o ano com uma relação dívida líquida/Ebitda menor que a atual, por volta de dois, ou um pouco abaixo, o que nos prepara para pensar em outras frentes, como remuneração de acionistas.”

A alavancagem é ponto central nos relatórios dos analistas que acompanham a empresa, considerando o aumento entre o fim do ano passado e o início deste ano. Das 2,8 vezes apuradas no quarto trimestre de 2024, a relação passou para 3,4 vezes no primeiro trimestre de 2025, recuando para 3,1 vezes no segundo trimestre deste ano.

A empresa informou que o aumento momentâneo da alavancagem decorreu de restrições operacionais nos ativos offshore no quarto trimestre, causadas por atrasos em autorizações regulatórias e paradas para manutenção.

Se a operação causou esse aumento, é ela também que deve ajudar a Brava a reduzi-lo. Para lidar com a questão, a empresa ajustou os investimentos — que caíram 32% no primeiro trimestre — e voltou o foco aos “projetos mais óbvios”: os campos de Papa Terra e Atlanta.

Primeiro projeto de águas profundas entregue por uma companhia independente brasileira, o Campo de Atlanta vem batendo recordes. No segundo trimestre, o campo, localizado na Bacia de Santos, a 120 quilômetros da costa de Arraial do Cabo (RJ), alcançou seu maior nível de produção trimestral desde o início da operação, com 36 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d), aumento de 2,6 vezes na base anual.

A companhia está finalizando o aumento de produção em Atlanta, com a conexão de seis poços, e espera atingir o pico de produção e eficiência operacional no segundo semestre.

No caso de Papa Terra, o objetivo era estabilizar a produção, desafio que vinha desde os tempos da 3R. Oddone conta que o campo, localizado na Bacia de Campos, a cerca de 110 km de Cabo Frio (RJ), tinha duas características que dificultavam as operações: petróleo pesado e falta de investimentos da Petrobras.

“Quando a Petrobras descobriu o pré-sal, por volta de 2005, 2006, os campos de petróleo pesado do pós-sal, como Papa Terra, deixaram de ser prioridade, pois a companhia tinha um negócio maior em mãos”, diz Oddone.

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Ação da Brava acumula queda de 19,8% no ano, levando o valor de mercado a R$ 8,7 bilhões

Após assumir o campo em 2022, a 3R iniciou atividades para entender e recuperar o ativo — trabalho continuado pela Brava e que mostra resultados. No segundo trimestre, Papa Terra teve seu maior volume de produção desde a aquisição, com 19 mil boe/d, aumento de 41,4% em relação ao mesmo período de 2024.

Os avanços nesses dois campos foram fundamentais para a Brava atingir, em agosto, produção média diária de 92,4 mil boe, aumento de 1,6% em relação ao mês anterior, renovando pelo segundo mês consecutivo seu recorde histórico.

E a meta é seguir crescendo. A Brava pretende iniciar, no fim do ano, campanha de perfuração e interligação de dois poços em Papa Terra e dois em Atlanta. “No fim do ano que vem, com a produção desses quatro novos poços, devemos ultrapassar 100 mil barris por dia”, diz Oddone.

Onshore

A campanha integrada de Atlanta e Papa Terra termina com a conexão do último poço em Atlanta no primeiro trimestre de 2027. A partir daí, a Brava pretende se dedicar mais ao onshore, com maior investimento na recuperação de campos maduros.

Atualmente, a Brava trabalha para entender melhor esse segmento, formado pelos ativos de Potiguar (RN e CE) e Recôncavo (BA). No segundo trimestre, a produção onshore atingiu 34,7 mil boe/d, alta de 1,5% na base anual.

Oddone afirma que a companhia está empenhada em compreender melhor os reservatórios para extrair mais valor e eficiência quando retomar os investimentos.

Enquanto parte dos investidores defende a venda desses ativos, Oddone acredita que eles oferecem estabilidade ao balanço, gerando recursos rapidamente a baixo custo — algo relevante num cenário em que o preço do petróleo gira em torno de US$ 70, com risco de queda.

“Nas campanhas offshore, uma vez iniciada a atividade exploratória, não se pode parar, pois os compromissos são elevados e os prazos longos. No onshore é diferente: os poços são rápidos, baratos e o impacto de não perfurar é pequeno”, diz ele.

Por conta dessa complementaridade, a Brava não planeja mais se desfazer dos ativos onshore, como pretendia no início do ano, quando colocou à venda os ativos na Bahia — processo posteriormente cancelado.

“Podemos fazer uma gestão de portfólio pequena, isso sempre esteve nos planos, mas ativos grandes não estão no radar”, afirma Oddone.

O portfólio atual também faz com que fusões e aquisições não sejam prioridade para a Brava, segundo Oddone — uma posição diferente da que tinha na Enauta, onde foi CEO de 2020 a 2024 e que contava apenas com Atlanta.

No início de setembro, a Bloomberg reportou que a Brava avaliava a compra da participação da Petronas no Campo de Tartaruga Verde. Sem comentar a notícia, Oddone afirma que a Brava analisa oportunidades, desde que sejam “especiais” e contribuam para a desalavancagem. “Mas esse não é o nosso foco agora”, reforça.

Mesmo com a ação da Brava acumulando queda de 19,8% no ano, levando o valor de mercado a R$ 8,7 bilhões, Oddone acredita que a estratégia tem respaldo de boa parte dos acionistas. Ele destaca o acordo firmado em julho deste ano entre Yellowstone, JiveMauá e a família Queiroz Galvão para formação de um bloco com quase 21% do capital — o free float da Brava é de 67%.

“É um bloco integrado que dá estabilidade à gestão. O que estamos executando está alinhado com a estratégia dos conselheiros deles”, diz o CEO. “E preço de ação é consequência. Melhorando a operação, entregando resultados, sendo eficiente — independentemente de flutuações de curtíssimo prazo — o mercado vai reconhecer.”

A intenção de Oddone encontra respaldo entre analistas. Recentemente, o Santander elevou o preço-alvo das ações de R$ 25 para R$ 29, afirmando que os esforços de otimização de despesas e investimentos podem ter efeitos positivos sobre as margens da companhia a partir de 2026, além de uma alavancagem de 1,5 vez no próximo ano. Na terça-feira, 23 de setembro, a ação encerrou o pregão aos R$ 18,79.