Com a alta da inflação e dos juros nos Estados Unidos e o futuro das contas públicas brasileiras em 2023 preocupando o mercado, investir em ações tem se tornado cada vez mais um exercício de coragem.
Esta combinação de fatores, inclusive, está fazendo muito gestor renomado ficar distante da Bolsa, como é o caso de Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management.
Se investir diante desse cenário já é algo difícil, uma gestora decidir apostar no lançamento de fundos de previdência com alta exposição ao mercado de renda variável parece ser uma estratégia no mínimo temerária. Mas foi isso que fez a Dahlia Capital, defendendo que esse é o momento ideal para quem está pensando em formar o pé de meia de longo prazo capturar potenciais ganhos.
“O Brasil sempre passou por ciclos e a gente vai continuar tendo ciclos”, diz Sara Delfim, sócia-fundadora da casa ao NeoFeed. “Pensando a longo prazo, vendo a desvalorização dos ativos brasileiros na Bolsa provocada pelo medo do juro americano, medo da China desacelerando e da situação fiscal do Brasil, existe uma oportunidade do investidor de comprar bons ativos em níveis de preços muito atrativos.”
É a partir desse racional que a Dahlia vem investindo em sua prateleira de fundos de previdência. No mês passado, ela lançou um fundo inspirado no carro-chefe da casa, o Dahlia Total Return, um multimercado com foco em ações no Brasil, mas que também conta com posições em juros, moedas e bolsa no exterior.
No fundo de previdência, 70% dos recursos replicarão a estratégia do Total Return. Para se enquadrar nos limites regulatórios dos fundos previdenciários, os 30% restantes serão alocados em renda fixa, o que também ajuda a amortecer a volatilidade característica da renda variável.
A casa já conta com outros fundos de previdência complementar. O primeiro foi o Dahlia 100, lançado em 2019 para espelhar o Dahlia Ações, composto exclusivamente de ações brasileiras. Em 2020 surgiu o Dahlia 50, inspirado no Dahlia Global, focado em mercado externo.
Com esses dois produtos, mais o novo fundo, a casa já atingiu a respeitável marca de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão na parte de previdência, acompanhando o crescimento da indústria desses fundos no País.
Mudanças regulatórias promovidas nos últimos anos começaram a quebrar o monopólio de grandes bancos e gestoras, permitindo o lançamento de planos por novos players, além de ter flexibilizado regras a respeito da composição desses fundos.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o patrimônio líquido dos fundos de previdência atingiu R$ 1,16 trilhão em novembro, um aumento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2021, representando 18,7% do patrimônio líquido total dos fundos de investimento.
Assim como a Dahlia, outras gestoras aproveitaram as novas regras para criar fundos de previdência que espelham estratégias de seus fundos. Em outubro, a casa de fundos quantitativos Giant Steps lançou um fundo previdenciário que replica a estratégia do multimercado Giant Zarathustra.
E, em julho, o Banco do Brasil anunciou um fundo de previdência em parceria com Ibiuna Investimentos que espelha um fundo multimercado da gestora do ex-diretor do Banco Central, Mario Torós, que busca capturar ganhos nos ciclos de política monetária por meio de exposição nos mercados de juros, moedas, ações ou commodities.
“Com essas mudanças regulatórias, a gente aqui na Dahlia viu uma oportunidade de oferecer produtos um pouco mais sofisticados, com uma gestão mais ativa, para rentabilizar melhor essa poupança (para aposentadoria)”, afirma Delfim.
Mas ainda que entenda ser o momento de aproveitar as oportunidades que o mercado em baixa está oferecendo, Delfim diz que a Dahlia está sendo cautelosa em suas alocações, com uma postura mais neutra em risco. No Total Return, por exemplo, metade dos recursos dos fundos em caixa, investido em CDI, e a outra metade colocando em teses em que tem mais convicção, além dólar e juros.
No caso das posições em ações no mercado brasileiro, a Dahlia está mais exposta a nomes do setor elétrico, por ser um setor regulado protegido da inflação. Outra parcela está em grandes bancos, por ganharem dinheiro em cenário de juro alto, além de nomes de consumo ligados à alta renda e commodities, principalmente petróleo.
Diferente
Não ter receio de lançar um fundo de previdência num momento ruim e repleto de incertezas do mercado é um reflexo do perfil da Dahlia. Com quatros anos e meio de vida, ela já possui cerca de R$ 5 bilhões em ativos sob gestão e tem uma história e postura diferente da maioria das gestoras da Faria Lima e do Leblon.
Delfim fundou a Dahlia junto com colegas do Bank of America, que trabalharam juntos por mais de dez anos, a maioria deles como analistas de empresas. No final de 2017, eles entenderam que era o momento de encerrar um ciclo, avaliando que poderiam utilizar as habilidades adquiridas para investir o dinheiro deles e de terceiros.
O time de gestão que se formou e toca a Dahlia é formado por pessoas com diferentes conhecimentos, desde setor elétrico passando por bancos, organizados numa sociedade linear, em que todos têm uma participação parecida.
“A Dahlia não é de uma pessoa, mas de um grupo de pessoas, com uma gestão colegiada”, afirma Delfim. “Se eu levo uma ideia de investimento e um não concordar, a gente não faz.”
Como única mulher do grupo fundador, Delfim também quis que a Dahlia tivesse um público diverso no quadro de funcionários. Segundo ela, essa postura acabou acatada e atualmente 50% do público é feminino e uma parcela relativa das pessoas não veem de universidades de elite que fornecem o grosso dos funcionários das gestoras.
Além da questão da diversidade, ela também quis que a gestora tivesse um nome feminino. A escolha por Dahlia se deu pelo fato de ser uma flor que sobrevive a qualquer condição climática. “É a essência da empresa, a gente queria criar uma empresa para perpetuidade”, afirma.
Sem seed money para fundar a gestora, nem apoio de grandes bancos ou plataformas, a Dahlia nasceu com a poupança de seus fundadores e firmou sua fama no mercado pela investigação e estudos diligentes de teses que possam afetar os investimentos.
Delfim cita como exemplo a dedicação que a gestora teve para entender como os Estados Unidos se tornaram uma potência mundial e como isso pode, ou não, ser replicado para a China. Para isso, eles contrataram um professor para dar aulas de história. O objetivo eraentender como os americanos conseguiram se descolar do restante do mundo para comparar depois com a China.
O resultado dessa dedicação pode ser visto nos retornos dos fundos da Dahlia. Desde que surgiu, em 2018, o Total Return, por exemplo, apresenta uma rentabilidade 67,5%.
“A gente não quer ser a gestora de maior rentabilidade do Brasil. A gente quer ser a gestora que consiga ao longo do tempo proporcionar retornos replicáveis consistentes resilientes”, afirma Delfim.