O executivo Leonel Andrade, CEO da CVC Corp, assumiu a empresa de viagens em abril de 2020, bem no exato momento em que a companhia sofria uma crise de imagem e duas semanas depois de a pandemia da Covid-19 causar o fechamento da economia – principalmente do turismo. “Desde então, meu sono tem melhorado trimestre a trimestre”, diz Andrade ao NeoFeed.

Segundo dados mais recentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) relativos a outubro do ano passado, a demanda por voos domésticos já está em 91,8% dos índices de 2019 e, nos voos internacionais, já chegaram a 77,8%. “Aparentemente a pandemia acabou para o turismo. Não vemos mais ninguém relutando ou pensando em cancelar uma viagem por conta da covid”, diz Andrade.

As perspectivas são melhores ainda. “Já estamos próximos de 100% dos números de 2019 nos voos domésticos e vamos chegar a 85% nos internacionais. Só não cresce mais por falta de avião”, diz ele. E, para aproveitar o primeiro ano sem o vai e volta ou o abre e fecha causado pela pandemia, a companhia está buscando completar as suas lacunas.

Depois de passar por um longo processo de digitalização, criar um programa de fidelidade e um hub financeiro, a empresa acaba de lançar uma plataforma para aumentar o seu alcance e, obviamente, as suas vendas. Trata-se da ConecTaaS, que Andrade define como uma ferramenta de Turismo as a Service.

“Já atendemos grandes clientes como Itaú e Livelo, agora posso atender bancos menores, cooperativas e até pequenas agências”, afirma Andrade. Por meio de APIs, a marca pode plugar a CVC e vender pacotes com o nome da operadora de turismo ou criar um white label.

Isso abre espaço para que milhões de pessoas se conectem aos produtos da companhia. Hoje, estima-se que essas parcerias com bancos e varejo representem 10% do volume de vendas da CVC Corp, que atingiram R$ 10,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano passado. Indagado sobre isso, Andrade não confirma e não dá mais detalhes. Mas estima-se que o ConecTaaS possa triplicar esse volume.

Desde o lançamento, na semana passada, 40 empresas já se plugaram. Entre elas, a Esfera, programa de fidelidade do banco Santander. Bancos digitais também devem entrar na plataforma, o que deve trazer mais potenciais compradores dos pacotes da companhia.

Outra lacuna que será preenchida até o fim do primeiro semestre é a área B2B. Atualmente, o grupo conta com quatro empresas: a Esferatur, a Visual Turismo, a Trend e RexturAdvance. A ideia é unificar todas em uma única plataforma, debaixo de uma única marca. “O que acontece hoje é que uma empresa pequena vende através da gente e tem de entrar em várias plataformas para vender um hotel e uma passagem. Vamos unificar tudo.”

Ao mesmo tempo que ocupa esses espaços, a companhia vai enxugando sua estrutura. De 2020 para cá, saiu de 4,3 mil funcionários para 3,3 mil. O top management, por sua vez, foi reduzido de 19 diretores-executivos para oito. O número de lojas caiu de 1,4 mil para 1,1 mil.

De um lado, isso tem acontecido devido à transformação digital da empresa. De outro, pela necessidade de reduzir seu endividamento. No início de 2020, a CVC Corp tinha uma dívida bruta de R$ 2,2 bilhões e após a capitalização com acionistas ela caiu para R$ 924,5 milhões.

Só que o custo da dívida é maior hoje por conta dos juros mais altos. E o problema é que a maior parte dessa dívida, cerca de R$ 600 milhões, vencem no segundo trimestre deste ano. Por conta disso, a CVC vem negociando com os credores formados por bancos e fundos. As negociações passam por reescalonar a dívida ou buscar novos credores.

“As conversas estão sendo boas. A companhia nunca atrasou nenhum pagamento, mesmo com a pandemia. O grande desafio é prorrogar a dívida para continuar investir no crescimento”, diz Andrade. Caso nenhuma alternativa dê certo, a CVC teria ainda a opção de antecipar seus recebíveis para pagar a conta. “Mas o ideal seria reescalonar a dívida”, afirma Andrade.

No terceiro trimestre do ano passado, a empresa vendeu R$ 1,3 bilhão ao mês – a maior parte desse montante no cartão de crédito. E o prejuízo líquido foi de R$ 336,7 milhões. As ações da companhia, que eram negociadas a R$ 11,59, em janeiro do ano passado, agora valem R$ 5,05 – uma queda de 56,6%.

Os analistas do BTG Pactual, Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis, escreveram em seu relatório mais recente que “depois de atingir o fundo do poço em 2020, a CVC deve ser uma das principais beneficiárias da reabertura econômica explorando, ao mesmo tempo, seus fortes relacionamentos de longo prazo com a fragmentada indústria hoteleira e companhias aéreas no segmento B2B.”

Há, entretanto, algumas ressalvas e o banco rebaixou os papéis da companhia para neutro. Segundo os analistas, isso “é baseado nos grandes desafios que a empresa terá pela frente, como alinhamento entre sua base de franqueados e crescimento/competição online com as OTAs, embora a atual estrutura de capital ainda seja uma preocupação.” Ainda falta uma etapa para o sono de Andrade ser 100% tranquilo.