A quebra do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, no início de março deste ano, precipitou uma série de desdobramentos além da operação do banco e acendeu o alerta sobre uma possível crise no sistema financeiro.

Nesse debate, muitos enxergam riscos similares aos que foram vivenciados na grande crise de 2008. Ao mesmo tempo, há quem siga o caminho oposto. E o discurso dessa última corrente foi encorpado recentemente por uma das principais vozes do setor: Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan.

Na última sexta-feira, 14 de abril, durante a conferência para a apresentação do balanço do banco relativo ao primeiro trimestre de 2023, ele disse que não espera que o colapso do SBV desencadeia uma crise no mercado financeiro.

Para Dimon, um grupo reduzido de bancos americanos está “excessivamente” exposto ao aumento das taxas de juros, com volumes acima do indicado de depósitos não garantidos ou com muitos ativos avaliados pelos preços atuais de mercado, fatores que foram essenciais para a quebra do SVB.

Na contramão desse universo pequeno, Dimon projetou ganhos robustos de bancos regionais e ressaltou que os credores têm alternativas para reduzirem sua vulnerabilidade ao aumento das taxas e saques de depósitos.

“Já vimos as coisas se acalmarem um pouco, especialmente no fluxo dos depósitos”, afirmou o executivo à frente do J.P. Morgan. Ele também recorreu à figura de Warren Buffett para reforçar essa visão menos catastrófica e ajudar a acalmar os ânimos do mercado.

Dimon fez uma referência à entrevista concedida por Buffett à rede americana CNBC no fim da semana passada. Na conversa, o megainvestidor e bilionário americano disse que apostaria US$ 1 milhão na crença de que nenhum investidor vá perder dinheiro com a falência de bancos nos Estados Unidos.

Para reforçar esse posicionamento, Buffett fez um convite a qualquer pessoa que estivesse disposta a igualar e contrapor a sua aposta. E acrescentou que os US$ 2 milhões resultantes dessa dinâmica seriam doados a uma instituição de caridade escolhida pelo vencedor.

Nessa direção, o bilionário projetou que o governo americano garantirá os depósitos bancários além do limite atual de US$ 250 mil por cliente, em qualquer instituição, e observou que não é preciso entrar em pânico.

Em contrapartida, Buffett acusou diversos bancos de praticarem uma contabilidade enganosa para inflarem seus lucros e de negligenciarem princípios básicos do setor, como não tomar empréstimos a descoberto. E pediu ainda sanções mais pesadas para os CEOs das instituições que seguem esse caminho.

Para Dimon, a manifestação de um nome do calibre de Buffett e sua disposição de arriscar seu próprio dinheiro em uma aposta desse porte deve ajudar a reduzir as preocupações em relação ao setor. Ao mesmo tempo, ele rechaçou as comparações do cenário atual com a crise financeira de 2008.

Entretanto, apesar de dizer que a crise atual terá vida muito mais curta, ele disse que é preciso ter atenção contra o aumento das taxas promovido pelo Federal Reseve (Fed) e que as pessoas precisam estar preparadas para eventuais impactos.

As palavras de Dimon ganharam o reforço do resultado do J.P. Morgan, no primeiro trimestre do ano. Os números divulgados pelo banco, assim como outros de seus pares – Citigroup e Wells Fargo, surpreenderam positivamente o mercado.

Entre outros indicadores, o J.P. Morgan apurou um lucro de US$ 12,6 bilhões nesse intervalo, alta de 52% sobre igual período, um ano antes. A receita, por sua vez, cresceu 25% nessa mesma base de comparação, para US$ 38,3 bilhões.

Com a divulgação do resultado, as ações do J.P. Morgan fecharam o pregão da sexta-feira, 14 de abril, com alta de 7,5%. No início desta manhã de segunda-feira, 17 de abril, os papéis estavam sendo negociados com ligeira baixa de 0,5%, por volta das 10h10 (horário local). O banco está avaliado em US$ 403,3 bilhões.