No tradicional Almoço Anual de Dirigentes de Bancos, promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entre canapés e taças de champanhe servidos no Hotel Unique, nesta segunda-feira, 24 de novembro, a crise do Banco Master foi o “prato principal” do encontro, que reúne CEOs e lideranças da indústria bancária do País.

A derrocada e liquidação da instituição de Daniel Vorcaro, além das lições já aprendidas e das que ainda precisam ser assimiladas, dominaram o “cardápio” de debates e conversas dos participantes, normalmente voltados à política monetária e pleitos do setor.

Essas discussões ocorreram em meio ao debate sobre a conta bilionária deixada para o segmento e a necessidade de reforçar o caixa do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), conforme revelou o NeoFeed.

Diante da magnitude do caso, a avaliação é de que é preciso rever as regras do fundo, para que não apenas os grandes bancos arquem com o ônus,  mas também evitar que o FGC seja usado como argumento de vendas ou incentivo a riscos excessivos.

“A preocupação é o que acontece depois dos 30, 35 dias após o pagamento”, disse o dirigente de um banco, que pediu para não ser identificado. “É preciso evitar que se torne um risco sistêmico. É preciso mudar as regras.”

A fala está alinhada ao que Daniel Lima, presidente do FGC, disse ao NeoFeed. Para ele, o episódio é uma oportunidade de submeter o desenho do mecanismo de resgate a um exame profundo, incluindo a forma de contribuição dos bancos e o escopo da cobertura oferecida ao investidor pessoa física.

Enquanto o day after domina o setor bancário, a atuação do BC no caso foi elogiada no almoço. O presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirmou que o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, presente no evento, elevou “a regra da dignidade institucional”, ao garantir credibilidade perante a sociedade.

“Aproveito para saudar o processo de aprimoramento regulatório que o BC tem feito, do ponto de vista da integridade e higidez do sistema financeiro, e o processo de depuração que o BC tem capitaneado”, disse Sidney.

“É fundamental enxergar, pelas lentes do regulador, quem cumpre ou não a legislação e quem está ou não a serviço de um sistema financeiro íntegro”, complementou.

Sidney buscou distanciar o setor bancário da crise do Master, afirmando que um sistema forte se sustenta em pilares como solidez, inovação e integridade.

“Sem robustez e integridade, não há competição saudável e sustentável. O novo nome da competição saudável é solidez e integridade. Inovação é essencial, mas só prospera quando há ética e solidez”, afirmou.

Convidado de destaque entre as autoridades presentes, Galípolo ressaltou o trabalho conjunto do BC com o Ministério Público e a Polícia Federal na investigação do caso, sem citar nominalmente o Master.

Ele destacou que a autoridade monetária foi desafiada ao longo de seu primeiro ano de gestão em temas como política monetária, estabilidade e segurança financeira. Disse ainda que a “obra de supervisão nunca está completa” e que é preciso aprender com casos de falência de bancos, no Brasil ou no exterior, para não repetir erros.

Galípolo afirmou que o debate sobre perímetro regulatório e autonomia orçamentária é fundamental para que o BC siga desempenhando seu papel de supervisão.

“Se há algo que ainda me deixa insatisfeito é não termos avançado no debate sobre qual é o perímetro regulatório do BC e seu arcabouço legal e institucional, que o equipare às demais instituições”, disse. “É essencial que o BC tenha recursos para investir.”