Os impactos da tragédia vivida pelo Rio Grande do Sul nos últimos meses devem ser sentidos por muitos e muitos anos. O Instituto Caldeira, hub de inovação que hospeda mais de 120 empresas em Porto Alegre, sabe muito bem disso. Mas não quer aceitar esse destino de braços cruzados.

Após fazer um investimento de R$ 120 milhões para aumentar sua sede para 55 mil metros no início deste ano, o hub passou 28 dias debaixo de 2,2 metros de água. No total, 69 empresas foram afetadas de forma drástica. Porém, apenas duas decidiram deixar o instituto, de acordo com Pedro Valério, diretor-executivo do Caldeira.

“O Caldeira nasceu em 2019 e gostamos de acreditar que nós seremos o primeiro hub que sobreviveu a uma pandemia e a uma enchente”, diz Valério. “De maneira geral, o prédio foi muito impactado, mas a comunidade empreendedora, não. Isso é muito mais forte e resiliente do que uma estrutura física.”

Segundo pesquisa feita pelo Observatório Caldeira, o prejuízo estimado pelas empresas-membro do hub supera os R$ 400 milhões. A estimativa envolve danos em equipamentos e infraestrutura, além de perdas em vendas.

De acordo com o levantamento, somente as estimativas de custos com demandas de infraestrutura totalizam cerca de R$ 32,5 milhões. Em relação à necessidade de empréstimos, que até o momento foi estimada somente por algumas das companhias, o valor é de quase R$ 155 milhões.

Com o cenário ainda desafiador, 71% das startups preveem queda nas vendas até o fim do ano, enquanto 65% esperam que haja queda na aquisição de novos clientes no período. Já as empresas que acreditam que vão enfrentar uma diminuição de rentabilidade até o fim de 2024 somam 67%.

Mudança de direção

Na visão de Valério, o momento é de regeneração. Ainda funcionando na base de geradores, o hub voltou a receber mais de 800 pessoas por dia. Antes da enchente, esse número atingia 1,8 mil colaboradores.

O Caldeira, ecossistema sem fins lucrativos, está em contato com diversas companhias da iniciativa privada para conseguir fundos em prol da reconstrução do espaço impactado pelas enchentes.

As empresas que quiserem auxiliar nesse processo serão consideradas como “cofundadores beneméritos”, ao lado das 42 companhias que deram vida ao instituto.

Criado para mudar o ecossistema gaúcho de startups e empreendedorismo, o Caldeira tem entre seus fundadores Marciano Testa, fundador e presidente do conselho de administração do Agi, José Galló, ex-Renner; Frederico Logemann, da família fundadora da SLC; Julio Mottin Neto, do Grupo Panvel; Marcos Boschetti, da Nelógica, entre outros pesos-pesados da economia gaúcha.

Além da recuperação, o hub afirma estar focado em ajudar Porto Alegre a entender que cidade quer ser daqui para frente.

“Nós vamos aguardar uma nova enchente ou vamos fazer essa história ser diferente?”, questiona Valério. “Precisamos, obviamente, nos preparar para novos eventos climáticos, mas, além disso, entender como transformar isso em um case de superação. Não podemos repetir essa história.”