A Nestlé planeja cortar quase 16 mil empregos no mundo e revisar seu portfólio de mais de 2 mil marcas, como parte do plano conduzido pelo novo CEO, Philipp Navratil, para reduzir custos em 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,7 bilhões) até o fim de 2027.
O anúncio, feito na quinta-feira, 16 de outubro, junto à divulgação dos resultados de vendas acumulados até setembro, prevê a dispensa de cerca de 12 mil funcionários de escritórios e 4 mil ligados às atividades produtivas e à cadeia de suprimentos.
Os cortes, equivalentes a 6% do quadro global de funcionários, fazem parte do programa Fuel for Growth (Combustível para Crescimento, em tradução livre), que inclui medidas de eficiência como uso de serviços compartilhados e automatização de processos, visando “impulsionar uma transformação empresarial positiva”.
“À medida que a Nestlé avança, seremos rigorosos na alocação de recursos, priorizando oportunidades e negócios com maior potencial de retorno”, afirmou Navratil, em nota. “O mundo está mudando, e a Nestlé precisa mudar mais rápido.”
Junto ao detalhamento do plano de corte de gastos, a Nestlé prevê registrar um fluxo de caixa livre acima de 8 bilhões de francos suíços (US$ 10 bilhões) neste ano, com crescimento a partir de 2026 superando o avanço dos dividendos.
O anúncio foi bem recebido pelos investidores. As ações da Nestlé subiram mais de 8% quando o plano foi revelado na Bolsa de Zurique, registrando a maior alta percentual diária desde 2008. Por volta das 12h01, os papéis avançavam 8,62%, a 82,69 francos suíços.
O plano surge em um momento turbulento para a Nestlé, marcado por mudanças nos hábitos de consumo, que atinge também seus concorrentes, e por uma série de escândalos recentes que geraram desconfiança entre os investidores.
Navratil assumiu o comando da Nestlé em setembro, após a demissão de seu antecessor, Laurent Freixe, envolvido em uma investigação que revelou um relacionamento amoroso com uma subordinada direta, violando o código de conduta da companhia.
Ex-CEO da Nestlé Nespresso, Navratil dá continuidade ao plano de reestruturação e busca de eficiência de seu antecessor, mas imprime sua própria marca. Um exemplo é a meta de redução de custos divulgada hoje, que supera os 2,5 bilhões de francos suíços (US$ 3,1 bilhões) anunciados anteriormente.
Segundo o jornal The Wall Street Journal (WSJ), o executivo afirmou aos investidores que a revisão do portfólio não será limitada por sentimentos nostálgicos ou de gratidão. Acrescentou que a empresa realiza uma avaliação estratégica das unidades de água, incluindo a marca Perrier, e de vitaminas, cujos destinos devem ser definidos até o fim do ano.
Ícone no setor de alimentos e produtos discricionários, a Nestlé vem enfrentando queda na demanda, pressionada pela inflação global e pelas mudanças nos hábitos dos consumidores, que buscam opções mais saudáveis.
Em fevereiro, a empresa informou que o crescimento orgânico das vendas em 2024 foi inferior ao registrado durante a pandemia e a crise financeira de 2008.
Nos primeiros nove meses de 2025, a receita da Nestlé caiu 1,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 65,8 bilhões de francos suíços (US$ 82,6 bilhões), devido ao efeito cambial. Em termos orgânicos, que excluem esse impacto, houve aumento de 3,3%, impulsionado pela alta de 2,8% nos preços.