Em fevereiro deste ano, Leonel Andrade, CEO da CVC Corp afirmou em entrevista ao NeoFeed que 2022 seria um ano de forte transformação para o grupo de turismo e que um dos caminhos que guiariam esse percurso seria a criação do “maior programa de fidelidade de viagens do Brasil”.
Nesta segunda-feira, 17 de outubro, oito meses depois, a CVC começou a mostrar a materialização desse discurso, ao anunciar o Clube CVC, seu programa de resgate de produtos e benefícios. No lançamento, além dos detalhes da iniciativa, o executivo reforçou a ambição da companhia ao ingressar nessa arena.
“O Clube CVC não é um programa de marketing, e sim, um grande negócio”, afirmou Andrade, em conversa com jornalistas sobre o lançamento, na tarde dessa segunda-feira, 17 de outubro. “E não estamos entrando para pensar pequeno. Vamos competir e buscar a liderança do segmento.”
Uma das apostas da CVC para tornar esse plano realidade está justamente na bagagem do executivo que, entre outras passagens, comandou a Smiles, uma das principais empresas do segmento no País, no período de janeiro de 2013 a maio de 2019.
Esse pacote inclui, porém, outros recursos. Na ótica da CVC, o principal deles é o fato de o grupo ter um posicionamento que combina uma base de mais de 30 milhões de clientes e uma rede de mais de 1,1 mil lojas físicas.
“Existem muitas OTAs (agências online de viagens) de um lado e, de outro, não temos nenhum concorrente com mais de 50 ou 60 lojas físicas”, afirmou Andrade. Em sua visão, dentro desse contexto, a CVC leva vantagem pela abordagem multicanal e por ter uma capacidade de distribuição física difícil de ser alcançada.
O Clube CVC, entretanto, vai cumprir um roteiro antes de “desembarcar” nas lojas do grupo. Nessa largada, os cadastros no programa estarão disponíveis apenas pelo site e aplicativo da empresa. A previsão é de que essa opção chegue à rede física no primeiro trimestre de 2023, embarcado em uma nova plataforma de vendas B2C, batizada de Atlas, que será implementada nessas unidades.
“Vamos começar com esse piloto, de maneira controlada”, ressaltou Tulio Oliveira, diretor executivo de tecnologia e novos negócios da CVC. “A ideia é testar os recursos e outras novidades com o público online e fazer os últimos ajustes antes de colocá-lo nas lojas.”
Fruto de um trabalho de 18 meses e parte de um investimento de R$ 104 milhões do grupo no primeiro semestre de 2022, o Clube CVC é válido a partir de hoje e estará aberto a cadastros gratuitos de qualquer viajante.
Da mesma forma, ao comprar um pacote de viagens pelos canais online do grupo, o consumidor terá a opção de participar automaticamente do programa e começar a acumular pontos a partir dessa primeira aquisição.
O cliente também poderá acumular pontos para resgate ao usar o cartão cobranded da CVC com o Itaú. “Nossa ambição é oferecer, com o tempo, todas as possibilidade de acúmulos e de resgate de pontos”, disse Oliveira. “Em breve, será possível transferir pontos de bancos parceiros, além da compra direta de pontos no site e transferência de pontos entre contas.”
Na dinâmica do lançamento, até o próximo dia 31 de outubro, cada R$ 1 real gasto em pacotes será convertido em um ponto no clube. Ao mesmo tempo, a CVC dará mil pontos automaticamente para quem se cadastrar até o dia 21 de outubro.
Em outra alternativa, a CVC também vai oferecer o Clube CVC Super, modalidade baseada no pagamento de uma assinatura mensal de R$ 37,90. Entre outras promoções, quem aderir a essa modalidade até o dia 21 de outubro terá direito a um bônus de 7 mil pontos.
Entre outras vantagens, o cliente que optar por essa modalidade paga terá direito a mil pontos todo mês no programa, além de preços e promoções diferenciadas, atendimento exclusivo e do fato de seus pontos nunca expirarem. Na alternativa gratuita, a validade dos pontos será de dois anos. Gradativamente, a ideia da CVC é lançar outros planos de assinatura.
Embora tenha preferido não fazer projeções acerca do programa, Andrade buscou referências no mercado e em sua própria experiência para dar uma dimensão das expectativas da CVC sobre como o projeto pode impactar seus resultados no médio e longo prazo.
“Em média, os grandes programas de fidelidade têm algo em torno de um terço dos clientes no que diz respeito à recorrência”, explicou, ressaltando que, no caso da CVC, esse patamar se traduziria em uma faixa de três a quatro milhões de clientes. “Vamos ter pouco impacto nos primeiros dois, três anos. Mas, seguramente, esse será um negócio relevante com o passar do tempo.”
Reação
O programa é mais um dos passos do grupo para reconquistar a confiança do mercado, um roteiro que começou a ganhar novos contornos em abril de 2020, quando Andrade assumiu como CEO da operação, poucas semanas depois de a Covid-19 começar a avançar no País.
Além das barreiras impostas pela pandemia, o executivo tinha desafios adicionais à frente, ligados, em particular, a questões anteriores à sua gestão. Em particular, erros contábeis da ordem de R$ 362 milhões, que trouxeram sérios impactos no faturamento da operação.
Como parte da estratégia para virar o jogo, um dos focos iniciais, ainda em 2020, foi uma capitalização de R$ 665,6 milhões. Já a partir de 2021, o grupo retomou os investimentos e passou a priorizar frentes como os aportes na digitalização do negócio. Nessa direção, além do programa de fidelidade, outro projeto recente foi o lançamento de um marketplace financeiro.
A reação inicial do mercado ao anúncio do programa de fideliddade foi positiva. As ações da CVC fecharam o pregão dessa segunda-feira com alta de 9,34%, com as ações negociadas a R$ 6,91. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização superior a 48%. O grupo está avaliado em R$ 1,91 bilhão.