Em reunião com investidores no fim de janeiro, Paul Vogel, CFO do Spotify, afirmou que o segmento de podcasts foi "um grande obstáculo" para os negócios da companhia em 2022. A empresa sueca não divulgou dados referentes a esta divisão, que começou a ser impulsionada ainda em 2019 e desde então investiu mais de US$ 600 milhões em aquisições de estúdios e produtoras.
A expectativa de Vogel era de que essa frente tivesse resultados melhores em 2023. Parte dessa estratégia envolve transformar a plataforma de áudio também em uma plataforma de vídeo. De acordo com dados da companhia, nos últimos três meses houve um aumento de 40% no número de episódios de podcasts que também contam com versões em vídeo. Agora, são mais de 100 mil programas.
Ainda que isso represente apenas uma gota em um oceano com mais de 5 milhões de programas, o aumento nos últimos três meses é expressivo e reflete um esforço da companhia para competir com plataformas como YouTube, Instagram e TikTok. Para se reforçar nesta briga, o Spotify firmou nos últimos meses acordos de exclusividade com criadores de conteúdo como Emma Chamberlain e Markiplier, segundo o The Information.
Não se sabe ao certo quanto o Spotify ganha com os podcasts. Em 2021, durante um investor day, a companhia informou que a receita anual desta frente girava em torno de € 200 milhões. A fatia era o equivalente a 2% da receita total da empresa no período, que ficou em € 9,6 bilhões. No ano passado, a expectativa era de que a cifra dos podcasts fosse “significativamente maior”.
O Spotify está de olho principalmente na tendência de publicação de cortes dos podcasts nas redes sociais. Como os episódios, principalmente envolvendo entrevistas, são longos, tornou-se mais comum que os usuários compartilhassem curtos trechos em vídeo no TikTok e no Reels, do Instagram. Criadores de conteúdo também criaram canais secundários no YouTube com trechos dos podcasts.
O canal Cortes do Casimito, do influenciador digital Casimiro Miguel, por exemplo, já conta com mais de 3,4 milhões de inscritos no YouTube e mais de 4,7 mil vídeos. Seu canal original, por sua vez, tem "apenas" 931 mil inscritos e 333 vídeos publicados até a quinta-feira, 29 de junho.
Parte do esforço para reformular sua estratégia de podcasts envolveu ainda a demissão de 200 funcionários da empresa sueca, a maior parte envolvida na frente de podcasts. A companhia disse que os cortes foram feitos devido a uma reorganização de seu negócio para focar em criadores maiores.
Antes disso, em outubro, o Spotify encerrou a produção de 11 de seus podcasts originais que estavam disponíveis na plataforma. Isso refletiu um esforço de enxugamento da área como um todo. Em 2022, apenas 222 mil episódios de podcasts entraram no ar em diferentes plataformas. Em 2020 este número superou 1 milhão.
Dados da consultoria Statista ajudam a entender por que o Spotify está menos contente com os podcasts e tenta encontrar uma alternativa para fazer o produto vingar. De acordo com a consultoria, os gastos de anunciantes com podcasts nos Estados Unidos estavam desacelerando e chegariam a US$ 2,5 bilhões em 2024 - apenas US$ 300 milhões a mais do que o registrado no ano passado.