O ex-todo-poderoso da rede varejista francesa Casino, Jean-Charles Naouri, CEO que liderou a empresa por 30 anos, enfrenta hoje um processo por corrupção e manipulação de preços que pode levá-lo para a cadeia.
Os promotores franceses pediram uma pena de três anos de prisão condicional e um ano em prisão domiciliar. Eles também solicitaram que o ex-CEO seja multado em € 2 milhões, além de uma cobrança de € 75 milhões para o grupo Casino.
A promotoria pública alega que Naouri pagou um editor, em 2018 e 2019, para divulgar informações favoráveis da varejista, na tentativa de sustentar o preço das ações, que naquele período vinha em queda.
Eles também dizem que o ex-executivo espalhou notícia, sem qualquer lastro, de que o Carrefour preparava uma oferta hostil para a aquisição do Casino. Naouri tem negado as acusações. A audiência final está prevista para a próxima quarta-feira, 22 de outubro.
“Neste caso, a manipulação é evidente em todos os níveis”, dizem os promotores públicos, segundo informou a Reuters.
Naouri, que liderou o processo de transformação do Casino, deixou a empresa no ano passado, quando ela passou a ser controlada por um consórcio liderado pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky.
O Casino Group, empresa proprietária dos supermercados Casino e Monoprix, também é acusado de corrupção e manipulação de preços. Além de Naouri, outros três ex-executivos da empresa e o editor Nicolas Miguet estão sendo julgados.
A empresa, que iniciou um plano de reestruturação, afirmou em um comunicado divulgado na quinta-feira, 16 de outubro, que os pedidos dos promotores “não levam em consideração o fato de que o novo Casino não tem mais nada a ver, em termos de tamanho, situação financeira ou governança, com o grupo liderado por Naouri.”
No Brasil, Naouri travou uma batalha pública com o empresário Abilio Diniz pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA), entre 2011 e 2013. Diniz tentou fazer com que houvesse uma união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour global, movimento que foi entendido pelo então CEO como uma tentativa de impedir que ele assumisse a empresa brasileira.
Nesta disputa, quem venceu foi Naouri. Ele conseguiu evitar a fusão e ainda assumiu o Pão de Açúcar em junho de 2012. Em setembro de 2013, Diniz vendeu suas ações e deixou a rede criada pelo seu pai, Valentim dos Santos Diniz, em 1948.
Em 2024, o Casino se desfez de partes das ações que tinha. Com 41% do capital social do GPA naquele momento, a empresa era controladora da varejista brasileira. Hoje, o Grupo Casino tem 22,5% de participação no GPA, atrás do Grupo Coelho Diniz, com 24,6%.
Também no ano passado, o grupo francês conseguiu ter um plano de reestruturação aprovado pelo Tribunal Comercial francês, por causa de uma dívida de € 6,1 bilhões.
Com isso, a corte aprovou a mudança de controle da empresa, que passaria a ser do consórcio liderado por Daniel Kretinsky, que passaria a ter 53% da empresa. A mudança incluía a saída de Naouri do comando da empresa.
Como parte do plano, a empresa realizou uma série de desinvestimentos. Em julho de 2022, o Casino vendeu a GreenYellow, empresa de energia renovável, por € 600 milhões. A companhia também se desfez de supermercados e hipermercados na França.
No acumulado de 2025, as ações do Grupo Casino na Bolsa de Paris registram queda de 64,5%. Nos últimos 12 meses, a desvalorização é maior: 82,7%. A rede francesa está avaliada em € 163,6 milhões. Em novembro de 2021, a empresa valia € 2,35 bilhões.