A Pague Menos divulgou o retrato mais recente da tentativa de recolocar sua operação nos trilhos ao reportar seu balanço do segundo trimestre na noite de segunda-feira, 5 de agosto. E os resultados vieram acompanhados de dois novos movimentos da rede de farmácias.

No primeiro deles, a companhia citou fatores como as mudanças no cenário macroeconômico como a justificativa para revisar sua projeção de alavancagem para o fim de 2024. Da estimativa anterior, feita em setembro de 2022, de até 1,7 vez, para o novo patamar de 2 vezes nesse intervalo.

O segundo envolveu uma atualização na projeção de sinergias com a aquisição da Extrafarma, anunciada há três anos, por R$ 737,7 milhões. Agora, a rede prevê capturas na faixa de R$ 195 milhões a R$ 260 milhões até o fim do ano, contra a estimativa anterior de R$ 180 milhões a R$ 275 milhões.

“Nós já atingimos o botton desse range, com R$ 203 milhões em captura de sinergias a partir da integração da Extrafarma”, disse Luiz Novais, CFO da Pague Menos, em conferência com analistas na manhã de terça, 6. “E isso aconteceu seis meses antes do que havíamos previsto.”

De acordo com o executivo, assim como a rede já havia previsto em seus primeiros anúncios relativos ao acordo, cuja última parcela foi paga na semana passada, a revisão nesses números envolveu, basicamente, a incorporação da inflação observada desde então.

“E nós afunilamos o topo dessa projeção, em função de algumas dissinergias com estoques desbalanceados que herdamos”, disse. “Mas já entregamos o que prometemos. Hoje, a Extrafarma é uma companhia saudável. E ainda temos seis meses para incrementar essa captura.”

Em relação ao endividamento, Novais ressaltou que a companhia vem cumprindo uma trajetória de desalavancagem desde 2023. Até então, a empresa passou por uma fase mais intensiva em investimentos, boa parte deles para lidar justamente com os ajustes nos estoques da Extrafarma.

No segundo trimestre de 2024, a Pague Menos reportou uma dívida líquida de R$ 1,35 bilhão, praticamente estável na comparação com a cifra de R$ 1,37 bilhão divulgada um ano antes. Já a alavancagem da rede saiu de 3,1 vezes, um ano antes, para 2,5 vezes.

“Vamos terminar o ano com uma alavancagem abaixo de 2 vezes e o plano é manter esse nível em 2025”, afirmou. “E temos o plano de retomar um ritmo de expansão maior do que nesse ano. Mas de forma muito gradual, cautelosa e sem ofender o endividamento.”

Com um ritmo de expansão bem inferior aos seus principais pares – a RD Saúde, por exemplo, planeja abrir até 300 unidades por ano, a Pague Menos encerrou o trimestre com 1.653 lojas e alcançou, no período, sua meta de aberturas de 30 pontos em 2024 no trimestre. Em 2023, foram 20 lojas inauguradas.

“A boa notícia é que inauguramos menos lojas que algumas redes e, mesmo assim, ganhamos market share”, disse Novais. “Estamos capturando esse valor no portfólio de mesmas lojas, que estão performando melhor que os competidores.”

Alguns dados trazem mais cor sobre essa frente. Entre abril e junho, as vendas mesmas lojas da rede cresceram 11,4%, contra 5,6% um ano antes. Em um recorte mais amplo, as mais de 200 lojas abertas desde 2021 têm, em média, 1,5 ponto percentual acima de margem em relação ao portfólio anterior.

As unidades incorporadas da Extrafarma também estão ajudando a reforçar essa conta. A Pague Menos já converteu 96 do total de 350 lojas adicionadas com o acordo, em um processo que envolveu 100% das operações nos estados de São Paulo, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Tocantins.

“As vendas mesmas lojas dessas 96 unidades convertidas foi de quase 22% no segundo trimestre, quase o dobro das não convertidas, que registraram 12,9%”, disse Novais. “Agora, só temos lojas da Extrafarma em quatro estados e estamos fazendo testes de conversão nessas praças.”

No mapa dessas eventuais mudanças de bandeira, o parque ainda disponível da Extrafarma está localizado nos estados do Pará, Amapá, Maranhão e Ceará. E a decisão sobre qual passo seguir nessa direção será feita em um processo de revisão desse portfólio nas próximas 14 semanas.

“Acho pouco provável eliminarmos a marca Extrafarma, especialmente em praças como o Pará, onde ela é muito forte”, disse o CFO. “Vamos fazer os testes com cautela. Isso deve passar por conversões complementares, mas talvez num patamar menor daquilo que foi feito nos demais estados.”

Em outros números do balanço, A Pague Menos reportou um lucro líquido ajustado de R$ 44,2 milhões entre abril e junho deste ano. Com o montante, a rede reverteu a perda de R$ 2,9 milhões apurada em igual período de 2023 na última linha do balanço.

Nesse intervalo, a empresa registrou um crescimento de 12,2% em sua receita líquida, para R$ 3,13 bilhões. Já o Ebitda ajustado avançou 15,7%, para R$ 176,9 milhões, enquanto a margem Ebitda ajustada evoluiu 0,2 pontos percentuais, para 5,3%.

Em relatório, o Itaú BBA classificou o resultado como “decente”, ao ressaltar o lucro líquido 42% acima de suas projeções e destacou que a revisão nos guidances já estava incorporada em sua análise. Mas pontuou que a desalavancagem e a dinâmica de market share são pontos-chave a serem monitorados.

“Apesar do plano de expansão mais lento, a empresa entregou ganhos decentes de market share nas regiões Norte e Centro-Oeste, enquanto manteve um ganho modesto no Nordeste”, apontou o time de analistas liderado por Thiago Macruz.

O banco tem recomendação neutra e preço-alvo de R$ 4,20 para a ação. “Permanecemos cautelosos e preferimos esperar nos bastidores, por enquanto”, acrescentaram os analistas.

As ações da Pague Menos estavam sendo negociadas com alta de 5% por volta das 13h30 na B3, cotadas a R$ 2,74. No ano, porém, os papéis registram uma desvalorização de 29,6%. A rede está avaliada em R$ 1,59 bilhão.