Diante de um cenário de crise econômica e política, a atratividade do Brasil para os investidores estrangeiros é um tema cada vez mais recorrente. Para o economista Arminio Fraga, o foco dessa discussão deveria, porém, uma lição de casa que o País precisa cumprir.

“Muito se fala sobre o investimento estrangeiro, mas ele tem sido até resiliente”, disse Fraga, em evento promovido pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). “O que não está arrancando é o nosso investimento. O dia que isso acontecer, entraremos num círculo virtuoso.”

Apesar de destacar alguns avanços, como a reforma da previdência e novo marco do saneamento, o ex-presidente do Banco Central afirmou que, hoje, o Brasil vive um círculo vicioso, recheado de incertezas, o que envolveu, inclusive, questionamentos recentes sobre a própria democracia.

“O Brasil tem feito boas reformas, mas a agenda é extensa e tem que acontecer em um ambiente de mais segurança”, observou. “Quase tudo no Brasil é mais ou menos, mas isso deveria ser uma fonte de otimismo, pois temos muito espaço para melhorar.”

Ele citou, por exemplo, áreas como infraestrutura e educação como campos com boas oportunidades para levar à frente essa agenda. Em contrapartida, destacou alguns pontos para que esses e outros segmentos sejam, de fato, viáveis na atração de investimentos. Entre eles, a política fiscal.

“Sem um governo sustentável do ponto de vista financeiro no médio e longo prazos, não há previsibilidade e confiança para o investimento”, afirmou. “O regime fiscal é crucial e o próximo presidente vai ter que arrumar a casa, de forma crível e profunda. Infelizmente, isso terá que ser feito quase que da estaca zero.”

Fraga também ressaltou a necessidade de o Brasil tomar medidas para tornar o gasto público mais eficiente. Para ele, esse contexto passaria por frentes como repensar, “talvez outras vezes”, a questão da previdência, além da adoção de uma nova postura.

“O Brasil é um país onde o governo não avalia muito o que faz. Não aprende para melhorar e descontinuar o que não presta”, disse, acrescentando que o País, hoje, tem um Estado bem disfuncional. “É preciso investir no desenho do que seria uma gestão de RH do Estado.”