Após uma série de idas e vindas sobre a questão da desoneração dos combustíveis, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prorrogou as alíquotas zero de tributos federais sobre a gasolina e o etanol por 60 dias. No caso do óleo diesel, a medida valerá por um ano. As decisões constam em Medida Provisória publicada na segunda-feira, 2 de janeiro.
Além do corte de uma importante fonte de receita para as contas públicas, que se encontram em situação frágil, a decisão de estender o benefício aprovado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro antes das eleições presidenciais pode ter um impacto bastante negativo para o setor sucroalcooleiro.
A afirmação é dos analistas do BTG Pactual, que calculam um impacto anualizado de até 7% sobre o Ebitda de empresas como São Martinho e Raízen, se o benefício para a gasolina e o etanol perdurar até o fim de 2023. Isso porque a medida prejudica a competitividade do álcool, que energeticamente rende menos que a gasolina.
A decisão já está sendo repercutida pelos investidores. Por volta das 14h52, as ações da São Martinho caíam 11,50%, a R$ 23,47, os papéis da Raízen recuavam 4,28%, a R$ 3,58, e os ativos da Jalles Machado tinham queda de 7,20%, a R$ 7,09.
Embora destaquem que a sinalização do governo eleito é de que a medida é temporária, os analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Pedro Soares escrevem que a falta de previsibilidade e de direcionamento a respeito da política de preços para combustíveis do novo governo prejudica o setor sucroalcooleiro.
“Nosso cenário base continua sendo de que os impostos retornarão em março, mas existem riscos óbvios para isso, enquanto o governo avalia suas prioridades”, diz um trecho do relatório.
Os investidores e analistas demonstram receio sobre o segmento de combustíveis diante das série de declarações de Lula e aliados sobre o tema, durante e após a campanha eleitoral.
O ponto central de preocupação é a política de preços da Petrobras, que pode ser revista e deixar de seguir a paridade internacional. Esse é um temor pela possibilidade de passar a atender decisões políticas e não de mercado. A medida é mais um fator, além da questão dos tributos, que afeta a precificação do etanol.
Segundo os analistas do BTG Pactual, um menor preço do etanol também deve significar um rebaixamento do piso de preços para o açúcar, ainda que as empresas tenham medidas para mitigar a situação, melhorando o mix de açúcar, e com o mercado em boas condições.
A decisão do governo Lula de prorrogar a desoneração dos combustíveis, e as dúvidas sobre a duração dessa medida, representou um banho de água fria nas expectativas do BTG Pactual para o setor sucroalcooleiro.
Os analistas demonstravam otimismo, com a melhora do rendimento da produção, além da volta da competitividade do etanol frente à gasolina com o fim da isenção fiscal. Agora, com as dúvidas colocadas pelo novo governo, eles planejam revisar as estimativas para o setor.
“Apesar de as ações no setor estarem sendo negociadas na extremidade inferior da média histórica [de preços], o que ainda contribui para uma boa história em termos de valor, tememos que os gatilhos [de alta] sejam limitados até que se tenha mais visibilidade nos preços”, diz trecho do relatório.