Com um cenário bastante incerto para a economia em 2023, o que tem consequências para o rumo da política monetária no País, os analistas do Bank of America (BofA) afirmam que os investidores precisam ter uma postura mais seletiva e cautelosa quando se trata das ações do setor financeiro não-bancário.

Mesmo com muitas dessas empresas sendo negociadas em patamares historicamente baixos, os analistas Mario Pierry, Antonio Ruette, Flavio Yoshida Ernesto Gabilondo afirmam que o diferencial será a execução operacional e o posicionamento nos mercados em que atuam.

No caso de empresas de seguros, cujos resultados dependem menos do cenário macroeconômico e do nível das taxas de juros, a preferência é pelas ações da BB Seguridadeuma das poucas companhias ligadas ao setor público com bom desempenho desde o ano passado - em 12 meses, os papéis acumulam alta de 79,8%.

Os analistas avaliam que a companhia pode se beneficiar das intenções do governo federal de estimular a economia via concessão de crédito via bancos públicos. Com um aumento da concessão de crédito, cresce também a contratação de alguns tipos de seguros relacionados.

Além disso, a empresa possui uma exposição elevada ao agronegócio, setor que deve ver os recursos destinados aos Planos Safra crescerem nos próximos anos, conforme indicação do governo.

“Apesar de tais políticas levantarem preocupações sobre a qualidade dos ativos dos bancos públicos, lembramos que as taxas de perdas das seguradoras não são afetadas por maiores índices de inadimplência”, diz trecho do relatório. “Os seguros prestamistas e imobiliários vendidos com os empréstimos pessoais e de imóveis geralmente cobrem a inadimplência relacionada à morte, e não a desemprego.”

Por conta desse cenário, os analistas do BofA elevaram em 12% suas estimativas para o lucro da BB Seguridade em 2023, comparado com o que esperavam anteriormente, a R$ 7,2 bilhões. E também elevaram o preço-alvo das ações de R$ 35 para R$ 40, indicando um potencial de alta de 17%. A recomendação permanece sendo de compra.

No segmento de adquirência, o relatório do BofA elogia a mudança de estratégia que vem sendo empreendida no setor, com mais foco em rentabilidade, via aumento de preços e das taxas cobradas, do que na conquista de fatias de mercado.

Dentre os nomes do segmento, o destaque é a Cielo, até pouco tempo, o patinho feio do mercado de ações, mas que tem aplicado de forma diligente essa nova estratégia. O BofA manteve a recomendação de compra para as ações, com preço-alvo de R$ 7,40, um potencial de alta de 48%.

Os analistas esperam que a companhia registre um avanço de 26% do lucro líquido em 2023, comparado com 2022, para R$ 2 bilhões, citando um avanço no volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) e expansão do rendimento, com aumento da receita e recuo nos custos das transações.

No caso de empresas ligadas à prestação de serviços para investidores de renda variável, os analistas do BofA compararam as perspectivas de B3 e de XP.

A preferência acabou indo para a primeira, pelo fato de ela ser menos dependente das atividades dos investidores de varejo, emissões de dívida e ações e por ter mais de 20% da receita gerada por outras atividades não ligadas ao mercado financeiro, depois da compra da Neoway, em outubro de 2021.

“Além disso, o valuation descontado em relação aos seus pares internacionais permanece acima da média histórica”, diz trecho do relatório. O BofA elevou o preço-alvo das ações de R$ 14 para R$ 15, indicando um potencial de alta de 16%. A recomendação é de compra.

A XP, por sua vez, tem 30% de sua receita vindo da transação de ações por investidores de varejo. A tese de investimento também é prejudicada pelo overhang causado pela posição do Itaú na companhia, com o banco considerando vender o restante de sua participação na plataforma.

O BofA reduziu o preço-alvo da XP de US$ 25 para US$ 19, valor que pressupõe um potencial de alta de 23%. A recomendação para os papéis é neutra.