O investidor Ray Dalio, fundador do maior fundo de hedge do mundo, o Bridgewater Associates, receberá pagamentos de ações especiais em um valor não revelado, mas na casa de bilhões de dólares, como parte de seu pacote de aposentadoria da empresa anunciado no ano passado.

A revelação foi feita nesta segunda-feira, 20 de fevereiro, pelo jornal The New York Times, citando atuais e ex-funcionários da Bridgewater, fundo que conta com cerca de US$ 150 bilhões sob gestão.

De acordo com o jornal, diferentemente do que havia sido anunciado em outubro, quando Dalio comunicou sua aposentadoria, os termos de sua saída do fundo que ele havia criado 47 anos atrás não foi amigável.

Na época, sua saída foi em parte atribuída por comentários controversos que Dalio fez sobre o histórico de direitos humanos da China, o que teria causado problemas para a Bridgewater, que tem entre clientes fundos soberanos e de pensões públicas.

O acordo envolveu seis meses de difíceis negociações nos bastidores sobre quanto dinheiro seus sucessores na empresa estavam dispostos a pagar ao bilionário para ir embora da gestora.

Em uma reunião interna no ano passado, durante o calor das negociações de saída, Dalio descreveu o fundo de hedge como seus “direitos de propriedade”, segundo um funcionário, e indicou que esperava ser compensado de acordo.

Dalio tem uma fortuna avaliada em US$ 19 bilhões e teria exigido pagamentos regulares nos próximos anos, por meio de uma classe especial de ações, que chegaria a “bilhões de dólares”.

Sempre considerado a alma da Bridgewater, Dalio foi o executivo-chefe, diretor de investimentos e presidente do conselho da empresa. Ele sempre se apresentou publicamente como uma espécie de guru da administração.

Dalio anunciou, em outubro do ano passado, que, a partir de sua saída, as decisões de investimentos seriam divididas entre Bob Prince e Greg Jensen, que estão na companhia há 35 e 25 anos, respectivamente. Ele também anunciou a divisão do cargo de CEO, que será compartilhado pelos executivos Nir Bar Dea e Mark Bertolini.

“Ao longo dos últimos dois anos, eu observei e orientei eles para que possam tocar a Bridgewater sem minha interferência e eles foram ótimos”, diz o trecho de um dos tuítes, no qual anunciou sua aposentadoria. Na época, ele transferiu todas as ações com direito a voto para a diretoria e deixou de ser um dos chefes da área de investimentos.

Dalio foi um trader de commodities e corretor de ações até fundar a Bridgewater, em 1975, inicialmente instalada em seu apartamento de dois quartos em Nova York. O fundo ganhou notoriedade nos anos 2000, quando teve ótimo desempenho e amealhou bilhões de dólares em ativos. Suas leituras precisas, e muitas vezes pessimistas, sobre a economia, mercados e investimentos o tornaram bilionário.

Além da fama conquistada por seus acertos, a Bridgewater também ficou marcada pelos princípios que Dalio estabeleceu para nortear os trabalhos, ideias tão fortes e profundamente arraigadas que alguns chegaram a comparar a empresa a uma seita.

À frente da Bridgewater, Dalio procurou fomentar uma “ideia de meritocracia” e acreditava que a melhor forma de se alcançar tal conceito era por meio de “veracidade radical e transparência radical”.

A essência disso é que a Bridgewater grava a maioria de suas reuniões de funcionários e as transmite amplamente, como prova de que é um lugar onde verdades duras podem ser ditas abertamente.

“Acreditamos que trabalho e relações significativas emergem quando você monta equipes de alto desempenho e as estimula a se engajarem em temas via análises rigorosas e ponderadas”, diz a Bridgewater na página de seu site que trata da questão dos princípios.

Sua aposentadoria, com o agora revelado pacote bilionário de ações, indica que nem sempre isso acontece