Em março de 2021, a Totvs comprou a RD Station numa transação que movimentou R$ 1,8 bilhão para a compra de 92% da startup de soluções de marketing digital liderada por Eric Santos. Na época, o mercado de tecnologia passava por um período de alta que fez até mesmo o BTG Pactual classificar o negócio como barato.

Quase dois anos depois, a situação mudou. Com a ressaca do pós-pandemia, o valor de mercado das startups despencou no mundo inteiro, os investidores ficaram mais cautelosos e os deals se tornaram mais raros. É nesse cenário que a RD Station se prepara para voltar à mesa de negociações. Agora, porém, do lado de quem está assinando os cheques.

“O tamanho do cheque de fato subiu, mas os valuations caíram. Inclusive no early stage”, disse Santos, cofundador e CEO da RD Station durante o RD Summit, evento da empresa cuja abertura foi realizada nesta quarta-feira, 26 de outubro, em Florianópolis (SC).

Mesmo nesse contexto, ele destacou que esse não é um fator decisivo para que a RD Station faça ou não uma aquisição. “Não vamos desistir de uma empresa porque o múltiplo está mais alto ou entrar em um novo negócio porque está baixo. Vamos fazer negócios que façam sentido", afirmou.

De acordo com Santos, a empresa está atenta para oportunidades que “tenham sinergia” com o negócio como um todo. Nesse sentido, há uma atenção especial para temas como CRM e conversation. “O conversation não é um segmento novo, mas algo transversal, que envolve marketing, venda, serviços, etc”, disse.

Um exemplo foi dado em agosto desse ano, quando a RD Station adquiriu a operação da Tallos por R$ 6,7 milhões. Especialista em atendimento virtual, a startup é o braço da empresa nos serviços de centralização de canais de comunicação entre empresas e clientes e é vista como fundamental na estratégia para ser uma one-stop-shop de soluções de marketing digital.

Embora não tenha revelado se planeja fechar mais algum acordo ainda nesse ano, Santos destacou que tanto a RD Station quanto a Totvs tem caixa suficiente para realizar operações de M&A. “O caixa foi levantado na época em que os valuations estavam mais altos”, afirma.

Em seu balanço do segundo trimestre, a Totvs informou que encerrou o período mais de R$ 2,5 bilhões em caixa. Já a dívida bruta ajustada ficou em pouco mais de R$ 1,7 bilhão. A receita líquida cresceu 29,5% no período para R$ 966,4 milhões.

Santos alertou, porém, que há um fator que pode dificultar os acordos: a teimosia de quem está sentado do outro lado da mesa de negociação. “Os fundos querem investir, mas tem muito empreendedor que ainda não entendeu que o mercado mudou”, diz.

Para ele, essa postura contribui para a redução no número de aportes em startups registrado nesse ano. “Muita gente está batendo num cenário onde é forçado a puxar o freio de mão”, afirmou Santos.

Segundos dados de uma pesquisa feita pela KPMG em parceria com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), os investimentos de venture capital caíram pela metade no primeiro semestre desse ano ante o mesmo período de 2021, passando de R$ 22,4 bilhões para R$ 11,6 bilhões.