Depois de pouco mais de três anos, o Santander Brasil voltou a registrar lucro trimestral acima de R$ 4 bilhões e viu sua rentabilidade crescer após dois trimestres consecutivos de queda, num momento em que o cenário de juros altos faz com que a instituição adote uma postura cautelosa e seletiva com sua carteira de crédito.

O banco informou nesta quarta-feira, 29 de outubro, que fechou o terceiro trimestre com lucro líquido gerencial de R$ 4 bilhões, alta de 9,4% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 9,6% na comparação trimestral.

O resultado superou a média das estimativas de analistas consultados pela Bloomberg, que apontavam lucro de R$ 3,7 bilhões no período.

O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE, na sigla em inglês) alcançou 17,5%, avanço de 0,5 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre de 2024 e de 1,2 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior.

O desempenho agradou o mercado, provocando alta nas units do Santander. Por volta das 11h24, os papéis subiam 2,49%, a R$ 30,13. No ano, acumulam alta de 26,8%, elevando o valor de mercado para R$ 113,3 bilhões.

Parte do resultado é atribuída ao menor reforço de provisões no trimestre anterior, que havia pressionado os números. O resultado de PDD gerencial totalizou R$ 6,5 bilhões no terceiro trimestre, queda de 4,9% na comparação trimestral. No ano, porém, subiu 10,9%.

Em entrevista coletiva sobre os resultados, o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, afirmou que o desempenho comprova os efeitos da postura mais disciplinada da instituição, especialmente no crédito.

Mesmo com a perspectiva de corte na Selic, o banco pretende manter essa estratégia, ainda que isso implique crescimento mais moderado da carteira de crédito. Leão destacou que a medida está alinhada ao objetivo de elevar o ROAE para a casa dos 20% de forma sustentável.

“Vamos continuar abordando o crédito de forma disciplinada e técnica. Possivelmente cresceremos menos que o mercado como um todo, e tudo bem, desde que o crescimento seja ancorado nos clientes e produtos certos, gerando mais rentabilidade”, afirmou.

Segundo ele, o Santander não busca crescimento linear em todos os portfólios de crédito, priorizando os mais rentáveis. No terceiro trimestre, a margem financeira atingiu R$ 15,2 bilhões, recuo de 1,2% em três meses, puxado pela linha de mercados. A carteira de crédito ampliada somou R$ 688,8 bilhões, aumento de 2% na base trimestral e de 4% na anual.

Um dos principais ajustes está sendo feito na baixa renda, cuja carteira recuou 6% em base anual. O plano é redirecionar parte do capital para crescer especialmente na alta renda, com foco em clientes de menor poder aquisitivo mais bem selecionados.

“Estamos com um novo segmento [na baixa renda], chamado de segmento especial, com clientes selecionados com quem queremos operar. Estamos sendo mais efetivos em filtrar essa grande base”, disse Leão.

Essa seletividade mostrou sinais positivos no terceiro trimestre, com o índice de inadimplência de 15 a 90 dias atingindo 3,9%, queda de 0,2 ponto percentual no trimestre, com melhora em pessoa física.

Ainda assim, o índice subiu 0,3 ponto percentual na base anual, devido ao segmento de pessoa jurídica, impactado pelos juros altos sobre companhias alavancadas, especialmente no agronegócio.

Já a inadimplência acima de 90 dias subiu 0,3 ponto percentual no trimestre e 0,1 ponto percentual no ano, para 3,4%. O registro de empréstimos inadimplentes (NPL formation) somou R$ 6.637 milhões no 3T25, aumento de 1,1% no trimestre e de 12,5% no ano.

Apesar desses dados, o Santander não vê necessidade de reforçar o provisionamento. O CFO Gustavo Alejo afirmou que os portfólios estão performando bem, apesar de alguns eventos pontuais, e que boa parte da proteção foi feita no trimestre anterior. “Há alguns grupos sob pressão, mas entendemos que a provisão é adequada para o momento”, disse.

Analistas do Bradesco BBI destacaram que o Santander apresentou resultado forte no terceiro trimestre, em parte pela gestão da carteira de crédito, mas também pela redução de despesas operacionais — com queda de 0,9% nas despesas com pessoal em relação ao trimestre anterior — e pela menor alíquota efetiva de imposto de renda, de 4,4%, abaixo dos 9,5% projetados.