Há mais de duas décadas, a China tomou o espaço de protagonista do mercado de capitais asiático do Japão. Neste ano, porém, foi diferente. Pela primeira vez em 25 anos, o Japão ultrapassou o país da grande muralha em receita de investment banking em taxas de emissões de ações, mostrando uma queda do mercado acionário chinês e, ao mesmo tempo, uma retomada de Tóquio.

Uma reportagem do Wall Street Journal (WSJ) destaca que o Japão obteve US$ 440 milhões em comissões de taxas de ações no acumulado de 2023, o que corresponde a 30% do total na região Ásia-Pacífico, segundo dados da consultoria Dealogic.

Já a China foi responsável por US$ 367 milhões ou pouco menos de um quarto das comissões bancárias na região. Os dados incluem taxas de IPOs, follow on, negociações em bloco e títulos conversíveis.

O feito japonês acontece em um cenário em que os reguladores em Pequim restringem o fluxo de IPOs chineses para Nova York e Hong Kong, direcionando muitas listagens de setores considerados estratégicos para Xangai e Shenzhen.

A economia japonesa também tem, no entanto, mérito nessa conquista, ao registrar ganhos de dinâmica no mercado secundário, com as ações subindo em Tóquio quase 20% este ano.

Em contrapartida, as ações chinesas caíram para o nível mais baixo desde antes da pandemia, levando investidores a entrarem em uma série de negociações em bloco pelas quais os banqueiros cobram uma taxa.

Espera-se que o Japão aumente a sua liderança em taxas bancárias à medida que uma onda de negócios chega ao mercado nos últimos meses do ano, ao mesmo tempo em que os IPOs na China secaram.

Novas empresas também são esperadas na bolsa japonesa em breve, resultado de uma tardia reabertura da economia no pós-pandemia que paralisou o mercado de capitais nos últimos anos.

Ao WSJ, Takaaki Suzuki, head of global capital markets do Morgan Stanley  no Japão, afirmou que a volta da inflação, depois de tantos anos, está impulsionando o mercado no país.

“No Japão, estamos vendo a economia deflacionária de 30 anos tornar-se numa economia inflacionária. Por causa disso, muitas empresas estão a mudar os seus modelos de negócio, digitalizando ou descarbonizando, e isso está impulsionando o investimento”, disse Suzuki.