No fim de 2022, a Vale anunciou o plano de encontrar um sócio para uma fatia de 10% em sua divisão de metais de transição energética, usados na produção de baterias para carros elétricos. E, com esse investidor, compartilhar um aporte estimado em US$ 20 bilhões nessa operação.

Desde então, esse tema tem sido recorrente em qualquer discussão sobre a empresa. No fim da manhã desta quinta-feira, 27 de abril, durante a conferência com analistas sobre o resultado da companhia no primeiro trimestre de 2023, não foi diferente.

Na call, os executivos da Vale não avançaram nas informações sobre a venda de participação – a notícia mais esperada nesse processo. Em contrapartida, eles trouxeram mais detalhes das alternativas para essa frente. Incluindo a estruturação da nova empresa e a possibilidade de uma abertura de capital.

“Estamos preparando o terreno para um forte crescimento dessa operação”, disse Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale. “E, sendo bem claro, se não encontramos o parceiro correto, que perceba o mesmo valor que percebemos, vamos estruturar essa organização de qualquer forma.”

Na direção da formalização dessa nova estrutura, Bartolomeo aproveitou a oportunidade para anunciar que Mark Cutifani, ex-CEO da Anglo American, vai assumir, em julho, a presidência do recém-formado Conselho de Administração do negócio de metais de transição energética.

Em fevereiro desse ano, a empresa já havia divulgado a chegada de Jerome Guillen, ex-presidente executivo da divisão automotiva da Tesla e homem de confiança de Elon Musk, para integrar o time de lideranças dessa operação.

“A razão fundamental pela qual trouxemos o Mark é para nos ajudar na execução do plano para esse evento de liquidez”, afirmou o executivo. “Ele enxerga a oportunidade de transformar esse negócio no melhor ativo de metais de transição no mundo e quer destravar o valor desse negócio.”

O mês de julho é também a data prevista para concluir a estruturação da empresa, como tido, com a entrada ou não de um sócio – apesar de Bartolomeu ressaltar que a Vale tem sido bastante procurada por interessados. Encerrado esse processo, há outros planos já em discussão.

“Vamos crescer de forma orgânica e temos também alguns M&As que podemos fazer além dos ativos que temos em metais de transição energética”, ressaltou Bartolomeo. “Essa indústria vai se consolidar e teremos a entidade correta para executar isso. Com cautela e de forma disciplinada.”

Nesse horizonte de médio prazo, o executivo também não descarta a possibilidade de a nova empresa seguir o caminho de um IPO. “É um evento de liquidez que podemos buscar”, disse ele. “Mas o que queremos é criar opções e o IPO não é a única alternativa na mesa.”

Queda no lucro

Paralelamente a esses planos, a Vale encerrou o primeiro trimestre de 2023 com um lucro líquido de US$ 1,8 bilhão, o que representou uma queda de 58,8% na comparação o número reportado na última linha do balanço em igual período, um ano antes.

Entre janeiro e março, a companhia apurou uma receita líquida de US$ 8,4 bilhões, um desempenho 22% inferior na comparação com o primeiro trimestre de 2022. O Ebitda ajustado recuou 42,5%, para US$ 3,5 bilhões. Já a margem Ebitda ajustada evoluiu de 39% para 42%.

A Vale atribuiu a queda no Ebitda aos menores preços realizados de finos de minério de ferro e pelotas, além das menores vendas de finos de minério de ferro e os custos mais elevados.

No período, o preço médio realizado de finos de minério de ferro foi de US$ 108,6 por tonelada, contra US$ 141,4, há um ano. Já o preço médio realizado nas pelotas ficou em US$ 162,5 por tonelada, ante US$ 194,6 por tonelada no primeiro trimestre de 2022.

A dívida líquida da operação no trimestre, por sua vez, foi de US$ 8,2 bilhões. Um ano antes, o montante reportado foi de US$ 4,9 bilhões e, no quarto trimestre do ano passado, de US$ 7,9 bilhões.

Em relatório, o Credit Suisse observou que o resultado veio “fraco como esperado” e um pouco abaixo das suas estimativas. O banco suíço ressaltou ainda que o desempenho pode ser explicado, principalmente, pelos custos de caixa de US$ 327 milhões.

“Em resumo, acreditamos que os resultados devem ser negativos para as ações, pois, embora o relatório de produção e vendas já tenha dado o tom, o custo de caixa veio pior do que o esperado”, escreveram os analistas Vanessa Quiroga e Lucca Biasi.

Depois de abrir o pregão de hoje com queda de 1,2%, as ações da Vale estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,78% na B3, por volta das 13h. No ano, os papéis registram uma desvalorização superior a 20%. A companhia está avaliada em R$ 315 bilhões.