Os ventos não andam nada favoráveis para a fabricante de pás para geradores de energia eólica Aeris. Desde que estreou na Bolsa em novembro de 2020, as ações acumulam queda de 55% diante principalmente da alta dos custos com matérias primas e da demora para normalizar a produção.
Ainda que a companhia esteja num mercado em ascendência, a ponto de ter fechado dois importantes contratos com as fabricantes de turbinas eólicas Vestas e Nordex, o BTG Pactual alertou que desafios no curto prazo relacionados à demanda por equipamentos prejudicarão o desempenho da Aeris.
Por conta disso, os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia decidiram rebaixar a recomendação para as ações da Aeris de compra para neutro e o preço-alvo de R$ 11,00 para R$ 4,00.
Segundo os analistas, a indústria deve passar por um momento complicado no curto prazo, em meio à alta dos custos para construir e colocar para funcionar operações de energia eólica. Eles citam que as turbinas representam 70% dos custos para projetos eólicos em terra e que o aço, principal material de que são feitos, encareceu muito nos últimos anos.
A complexa situação vivida pelo setor ficou evidente com a decisão da GE Renewable Energy, a divisão da americana GE para a área de energia renovável, de parar de produzir turbinas eólicas no Brasil. Os equipamentos da empresa representam 30% da capacidade instalada do País.
Os analistas do BTG Pactual afirmam que outros produtores de turbinas também estão sendo prejudicados pelo momento, um desafio para fornecedores como a Aeris. Os três maiores clientes da empresa - Nordex, Vestas e Siemens representam 86% da carteira de pedidos da Aeris - cortaram suas projeções para vendas em 2022.
“Esses cortes nas estimativas foram provocados principalmente pelo forte aumento nos custos das matérias primas, uma vez que, ao contrário da Aeris, os fabricantes de equipamentos não têm cláusulas que preveem o repasse automático de custos, por tanto suas margens foram prejudicadas pela inflação”, diz trecho do relatório.
A desaceleração do mercado eólico fez com que a Aeris reduzisse suas projeções para o acumulado de 2022, que já não eram consideradas positivas pelo BTG Pactual. A companhia espera agora que a receita líquida feche o ano entre R$ 2,6 bilhões e R$ 3,1 bilhões, abaixo da faixa de estimativas divulgadas em setembro do ano passado, que variava R$ 3,3 bilhões para R$ 4 bilhões.
O mesmo ocorreu com a previsão de Ebitda, que recuou de um período de R$ 300 milhões a R$ 450 milhões para um intervalo de R$ 270 milhões a R$ 340 milhões.
O corte no preço-alvo das ações é o maior desde que o BTG Pactual começou a cobrir as ações da Aeris em dezembro de 2020. Na ocasião, ela estabeleceu um valor de R$ 12,00 para as ações.
Mesmo após um desempenho considerado fraco no quarto trimestre daquele ano, o banco elevou o preço-alvo a R$ 14,00, em meio à expectativa de que o governo do presidente Joe Biden, nos Estados Unidos, estimulasse o setor de energia limpa pelo mundo.
Quando divulgou as projeções para este ano em setembro, os analistas reduziram o preço-alvo para R$ 11,00, depois de revisarem para baixo a projeção para o lucro líquido em 2022 em 47%.
“Naquele momento, dissemos que víamos espaço para alcançar a ponta alta da faixa de guidance e que esperávamos que a produção se normalizasse no segundo semestre”, diz trecho do relatório. “Mas, na semana passada, a Aeris revisou novamente seu guidance para 2022, com receita e Ebitda 22% e 19% abaixo das nossas projeções, respectivamente.”
A Aeris registrou no segundo trimestre um prejuízo líquido de R$ 28,6 milhões, revertendo lucro do mesmo período de 2021. A receita líquida cresceu 10%, para R$ 651,7 milhões, enquanto o Ebitda ajustado aumentou 22%, para R$ 67,1 milhões.
Por volta das 16h57, as ações da Aeris caíam 1,20%, a R$ 2,46. No ano, elas acumulam baixa de 62,4%, levando o valor de mercado a R$ 1,8 bilhão.