Com um 2022 pouco favorável para a renda variável e com uma estrutura que cresceu ao longo dos últimos anos, e que se mostrou muito pesada ao longo do ano, a XP Inc. conseguiu chegar ao final de 2022 com um lucro líquido praticamente estável em relação a 2021, de R$ 3,6 bilhões.
Depois de ter se aproveitado dos efeitos da queda das taxas de juros durante a pandemia, que resultou numa forte expansão do quadro de funcionários, a alta da inflação e dos juros em 2022 afetou a companhia.
O resultado foi uma compressão das margens, levando a uma necessidade de reorganização, ligando o sinal amarelo, em razão das circunstâncias econômicas que não estão previstas para melhorar em 2023.
"A XP seguiu avançando, ganhando market share dos bancos em 2022, mas a uma taxa menor, porque os juros altos fazem com que as pessoas fiquem numa inércia maior, o que é natural", disse Bruno Constantino, CFO da XP. "Ainda temos espaço para crescer, mas o cenário de juros a 13,75% ao ano torna esse crescimento a uma taxa menor."
O desempenho da XP foi marcado por altos e baixos ao longo do ano. A situação fica evidente quando se olha para o desempenho entre o terceiro e o quarto trimestre. Após o recorde no terceiro trimestre, a receita bruta recuou 12% entre o terceiro e o quarto trimestre, para R$ 3,3 bilhões. Comparado com o quarto trimestre de 2021, o recuo foi de 3%.
Segundo a XP, a queda sequencial foi provocada principalmente por uma receita menor em institucional, grandes empresas e mercado de capitais. No trimestre passado, elas se beneficiaram de uma antecipação de ofertas e volumes negociados por conta das eleições.
No varejo, principal área da XP, houve uma queda de 3% na receita bruta em base trimestral e 5% na anual, para R$ 2,5 bilhões. Além dos efeitos da situação econômica, a empresa informou que as incertezas provocadas pela eleição presidencial pesaram sobre o resultado, assim como a Copa do Mundo e as festas de fim de ano, que reduziram as interações entre clientes e assessores.
"O mundo de investimentos acaba sendo impactado por esses eventos, dado que o business de assessoria de investimentos demanda um contato pessoal. E, quando você tem esses eventos, ele acaba ficando prejudicado", disse Constantino.
Com isto, o lucro líquido da XP no quarto trimestre recuou 21% em base anual e 24% ante o terceiro trimestre, para R$ 783 milhões. A receita líquida caiu 3% comparado com o mesmo período de 2021 e 12% ante o terceiro trimestre, para R$ 3,1 bilhões.
Ela até conseguiu fechar o ano com aumento de 11% da receita líquida, para R$ 13,3 bilhões, com um aumento de 16% no montante de ativos totais de clientes, para R$ 946 bilhões. Mas a captação líquida total recuou 33%, a R$ 155 bilhões.
Considerando que as circunstâncias permanecerão desafiadoras, a XP vem atuando no lado das despesas. A companhia iniciou um ajuste em sua estrutura de custos, o que inclui a redução de quadro de funcionários.
Na frente de pessoal, a companhia fechou o ano com 6.928 colaboradores. Ao fim de janeiro de 2023, o total de colaboradores era 6.549, redução de 5,5% comparado a dezembro.
"A partir deste ano, dada essa transformação on going, com redução de despesas, mesmo mantendo um cenário desafiador, esperamos ver retomada da expansão e do crescimento de margem e do lucro líquido", afirmou Constantino.
A companhia projeta que as despesas totais em 2023 fiquem no intervalo de R$ 5 bilhões a R$ 5,5 bilhões, comparável ao valor de R$ 5,6 bilhões de 2022.
Se corta por um lado, a XP também cobra mais resultados de sua base de agentes autônomos. Em carta a sua base de escritórios, o chairman da XP, Guilherme Benchimol, pediu o back to the basics, cobrando mais empenho na busca por novos clientes.
Segundo Constantino, a natureza do negócios de assessoria de investimentos exige contato constante com o cliente, e a ideia de Benchimol foi estimular os assessores a buscarem os clientes, apesar das dificuldades apresentadas pela economia.
"O que está por trás é pegar quem está performando aquém e trazer para o nível de quem está performando além. Isso é a XP, isso é o que a gente é desde sempre", disse.