Brasília - Em janeiro deste ano, o governo federal divulgou com pompa e circunstância um relatório sobre o trabalho da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO). Trata-se do principal programa da Polícia Federal contra facções criminosas no País.

Ao todo, segundo dados oficiais de 2024, foram realizadas 222 operações com a descapitalização de R$ 338 milhões de grupos criminosos. Mais de mil pessoas acabaram presas. Hoje, a realidade preocupa delegados ouvidos pelo NeoFeed por causa do contingenciamento de recursos no governo federal para o Ministério da Justiça.

As FICCOs são consideradas modelos de trabalho de investigação por unir corporações federais com órgãos e policiais estaduais, formando grupos de elite para atuação e troca de informações, que se aproxima de operações como a Carbono, deflagrada em agosto deste ano que desbaratou um esquema operado pelo PCC em postos de combustíveis, fintechs e fundos de investimentos.

Mesmo com o sucesso da FICCO, exaltada pelos integrantes do Ministério da Justiça, os delegados responsáveis pelas operações alertam para a falta de recursos disponíveis. Trocas de mensagens entre os investigadores obtidas pelo NeoFeed revelam dificuldades financeiras até mesmo para pagar diárias dos servidores, com atrasos que chegam a dois meses.

O contingenciamento de recursos para o Ministério da Justiça e Segurança - onde a Polícia Federal está abrigada - chegou a R$ 750 milhões. Estima-se que os valores para as FICCOs chegariam a R$ 60 milhões por ano, uma média de R$ 5 milhões por mês.

O montante pedido inicialmente pelos investigadores ligados à força integrada foi de R$ 80 milhões. A dificuldade é que nem mesmo os R$ 60 milhões autorizados chega ao destino final por causa do contingenciamento. Até agora, segundo apurou o NeoFeed, foram liberados R$ 30 milhões, uma média de R$ 3,5 milhões por mês.

Mensagens compartilhadas pelos investigadores mostram dificuldades também para liberar recursos para combustível e manutenção de viaturas.

“O custo para o governo federal não é tão alto, mas mesmo assim estamos com dificuldades de operacionalizar as ações”, disse ao NeoFeed um policial que integra a FICCO.

Ao ser confrontado com os números, o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Luciano Leiro, disse que a FICCO é a prova da eficiência da PF, inclusive no trabalho de coordenação das operações. “Mas todo esse trabalho corre risco de parar por falta de valorização do trabalho. Será um prejuízo nas ações contra o crime organizado.”

O NeoFeed procurou a direção da Polícia Federal mas, até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.