Brasília - Um dado da pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 10 de abril, trouxe ânimo para o governo Lula. Combalido por dados sobre a percepção da população em relação à economia, o Planalto confirmou a força do projeto de isentar do Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil. Os números do levantamento são inequívocos: 70% dos entrevistados se disseram favoráveis em livrar os mais pobres de possíveis descontos.

A pesquisa apareceu em boa hora para parte dos governistas, que viam entre os próprios aliados dúvidas sobre os efeitos políticos da medida, considerando que ela só terá efeito prático em 2026 – e mesmo assim de maneira difusa, dado o fato de que a isenção não é o mesmo que dinheiro no bolso, como programas de renda. A dificuldade agora do Planalto é tourear o projeto na Câmara. Mas há um problema futuro, não muito distante.

Tal problema está numa disputa paroquial entre o deputado e ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), atual presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma espécie de ancoradouro de todos os projetos que tratam de temas relacionados ao bolso do cidadão e dos recursos de empresas.

Inimigos em Alagoas, Lira e Arthur podem disputar uma cadeira no Senado em 2026, levando a uma guerra de protagonismo que pode atrapalhar a tramitação do IR.

Primeiro round

A dificuldade inicial do governo e manter é manter a retenção de 10% daqueles que ganha mais de R$ 50 mil. Se a isenção prevista para quem ganha até R$ 5 mil deve passar sem maiores atropelos – por mais que congressistas da oposição tenham alertado sobre prejuízos a municípios com servidores que recebem menos desse valor –, a compensação ainda é uma incógnita. Lira pode resgatar uma proposta do governo Bolsonaro de reduzir a taxação de empresas e um percentual sobre dividendos.

Uma comissão especial será instalada logo depois do feriado de Páscoa e Lira promete ouvir todos envolvidos com a proposta. O protagonismo do deputado é um incômodo para Renan, afinal os congressistas são inimigos declarados em Alagoas e podem disputar o mesmo cargo em 2026, pois o mandato de Renan se encerra em fevereiro de 2027.

Segundo round

A preocupação antecipada de governistas é que Lira consiga ganhar musculatura eleitoral durante a tramitação na Câmara e force Renan a buscar um quinhão quando o texto chegar ao Senado.

Aliados do senador alagoano avaliam que movimentos políticos no Congresso podem levar a trunfos nas urnas, principalmente diante do apoio eventual de Lula, que venceu em 89 das 102 cidades do estado - a capital, Maceió, ficou com Bolsonaro.

Como a proposta de isenção do Imposto de Renda aos mais pobres passou a ser bem avaliada, quem ganhar o título de facilitador da aprovação poderá exibir o feito na campanha. Diante disso, Renan, da CAE, poderia avocar a relatoria na comissão, se ausentando do cargo de presidente do colegiado durante o momento da votação.

Em conversas com aliados, o senador tem dito que pode assumir eventuais desgastes do próprio Fernando Haddad, ministro da Fazenda, em relação a propostas que estabeleçam mais tributos.