Brasília - Os números do impacto do tarifaço de Donald Trump no Brasil são conhecidos. A estimativa é que o País perca, aproximadamente, R$ 40 bilhões com a taxação de até 50% sobre produtos brasileiros exportados. Mas qual é o peso dessas medidas para os americanos?
Um estudo da Prospectiva Public Affairs LATAM, obtido com exclusividade pelo NeoFeed, revela que o impacto mais significativo recai sobre os estados dos Estados Unidos com perfil mais republicano, o partido do presidente norte-americano. Os dados consideram a vitória no colégio eleitoral em 2024.
Mapear os estados mais afetados pelas tarifas aplicadas por Trump aos produtos brasileiros é visto como uma chance de o Brasil abrir negociação também com um argumento político-partidário, além do comercial.
“O estudo mostra que os estados que elegeram Trump devem ser os mais afetados, e, assim, um lobby entre empresas têm alguma chance de resultado, caso as negociações ganhem algum espaço, afinal a gente sabe que tais acordos estão contaminados pela questão política”, diz Thiago Vidal, diretor de análise política da Prospectiva.
É o caso do café, dos sucos, dos reatores, dos materiais elétricos e das aeronaves. Os três estados importadores mais fortes desses produtos são republicanos. Carnes, vísceras comestíveis e frutas, por sua vez, são na sua maior parte importados por estados majoritariamente democratas.
Os dados sugerem haver espaço para otimismo nas negociações entre Brasília e Washington, segundo a Prospectiva.
“Do ponto de vista comercial, há uma chance de ampliação da lista de exceções, como por exemplo no caso do café, até porque os demais países exportadores, como Vietnã e Colômbia, não têm capacidade de suprir as perdas brasileiras. E os estados mais afetados neste caso são as republicanas”, afirma Vidal.
Os estados republicanos da Louisiana e da Carolina do Sul respondem por quase 40% de todo o café brasileiro importado dos Estados Unidos.
A importação de suco de laranja concentra-se na Flórida (52% do total), que comprou US$ 444 milhões do produto em 2023. No estado, Trump se elegeu com 56% do voto popular, o que garantiu ao republicano 30 delegados no colégio eleitoral.
Nova Jersey e a Califórnia, estados democratas, são os segundos e terceiros colocados no ranking das importações de suco de laranja, mesmo assim com 40% do total.
No caso dos reatores, Texas e Flórida representam quase 30% de todas as importações. Os dois estados deram mais de 56% dos votos a Trump. Os valores negociados chegaram a quase US$ 1 bilhão em 2023 apenas nos dois locais.
Materiais elétricos são outros itens da cesta de importação dos Estados Unidos para o Brasil que mostra a força de estados com maioria republicana, considerando o ano de 2024. O Texas e a Geórgia, estados que votaram em Trump, compram 34% desse tipo de produto exportado pelo Brasil, chegando a US$ 500 milhões.
No caso das aeronaves, a Flórida e a Indiana, estados de maioria trumpista, são responsáveis por 73% das compras do Brasil, um valor de negócio de mais de US$ 1,2 bilhão, segundo dados de 2023.
Apenas no caso das frutas e das carnes (e vísceras comestíveis) os estados mais importadores é que votaram na democrata Kamala. São os casos da Califórnia, de Nova Jersey e Illinois, com a maioria das importações desses produtos.
Se for considerada a importação do ferro e de aço, há um equilíbrio entre os estados da Pensilvânia (14% das importações) e do Mississipi (13% das importações), maioria trumpista, e Illinois (35% das importações), que apoiou Kamala.