A quebra do Silicon Valley Bank, em março do ano passado, gerou um tremor sísmico no mercado de startups. Para a Brex, fintech criada nos Estados Unidos pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, era a tempestade perfeita.

Meses antes da quebra daquele que era considerado o “banco das startups”, a Brex informou que iria deixar de atender dezenas de milhares de pequenos negócios para focar em startups financiadas por fundos de venture capital – agora carentes de serviços financeiros.

Quase um ano se passou e agora é a Brex quem está em apuros, deixando dúvidas sobre o seu futuro. Nesta terça-feira, 23 de janeiro, a companhia anunciou a demissão de 20% de seu quadro de funcionários. Conforme reportado pelo The Information, 282 pessoas que trabalhavam na startup perderam o emprego.

Os cortes foram informados por Franceschi em um e-mail enviado aos funcionários. Na mensagem, o cofundador culpou a velocidade do crescimento do negócio. “Crescemos nossa organização muito rapidamente, tornando mais difícil avançar na velocidade que antes.”

Crescer rápido demais não é um problema. O problema é quando isso acontece com um gasto exagerado de capital. É o caso da Brex. Durante o quarto trimestre do ano passado, a fintech queimou em média US$ 17 milhões por mês e levantou preocupações sobre sua saúde financeira.

Os gastos eram ainda maiores antes. No quarto trimestre de 2022, os gastos mensais da empresa atingiram US$ 22 milhões. Naquele ano, as despesas eram responsáveis por 25% da receita. O The Information informou que esse gasto foi reduzido em 2023, mas não se sabe para quanto.

Em janeiro deste ano, Ben Gammel, CFO da companhia, reuniu empregados para informar que a startup ainda tinha caixa suficiente para operar até março de 2026 e que havia um plano para reduzir a queima de caixa.

O plano envolvia as demissões feitas nesta terça-feira. Ontem, antes das demissões se tornarem públicas, um porta-voz da companhia disse ao The Information que a companhia havia estendido o fluxo de caixa por mais dois anos – mas sem informar como.

Essa não foi a primeira rodada de desligamento em massa de funcionários realizada pela startup que em 2021 foi avaliada em US$ 12,3 bilhões e tem entre seus investidores gestoras como Tiger Global Management e Greenoaks Capital Partners.

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Pedro Franceschi e Henrique Dubugras, cofundadores da Brex

Cerca de um ano atrás, a Brex demitiu 136 funcionários, o correspondente a 11% da equipe de trabalho na época. Os cortes foram feitos para que a companhia focasse em sua estratégia de olhar para clientes maiores em detrimento dos pequenos negócios.

Antes disso, em 2020, a Brex demitiu 17% de sua equipe - cerca de 62 pessoas. Os cortes aconteceram em junho daquele ano, menos de um mês após a empresa ter captado US$ 150 milhões em rodada liderada pela DST Global e ser avaliada na época em US$ 3 bilhões.

Breque na Brex

Enquanto tenta interromper a queima de caixa com demissões, a Brex enfrenta a redução no crescimento de seu negócio. Ainda que a receita tenha aumentado 32% no ano para US$ 279 milhões, a maior parte veio no primeiro trimestre – justamente pela quebra do Silicon Valley Bank.

A Brex não pode culpar somente o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pela desaceleração no crescimento. A estratégia de focar em startups financiadas por fundos de capital de risco também precisa ser colocada na balança.

Em novembro, Dubugras afirmou que a companhia agitou “uma enorme quantidade de negócios que não eram lucrativos”. A expectativa era de virar o jogo nos próximos trimestres. “Prevemos que o crescimento da receita líquida irá acelerar agora”, afirmou.

Se não conseguir reverter o cenário atual, a Brex terá que reformular seus planos que envolviam uma possível abertura de capital por IPO em 2025. Isso só aconteceria, segundo os fundadores, se a companhia se tornasse lucrativa antes disso.