A Crescera Capital e a Triaxis Capital estão acertando os últimos detalhes para colocar no mercado o Criatec 4 ASG, fundo ancorado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As duas gestoras foram as vencedores do edital do BNDES, que pode injetar até R$ 125 milhões no fundo. Além dele, são cotistas do Criatec 4 ASG Fapesp, BNB (Banco do Nordeste), Badesul, BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) e AgeRio (Agência de Inovação do Rio de Janeiro).

Neste primeiro fechamento, o fundo dá a largada com R$ 200 milhões. Nos próximos 12 meses, a meta das duas gestoras é captar mais R$ 150 milhões. Dessa vez, o alvo são investidores privados. Em especial, family offices.

“O mercado está melhorando e, no segundo semestre, acredito que vamos ter um pouco mais de facilidade para captar”, afirma Fernando Silva, sócio da Crescera Capital, ao NeoFeed. “E temos track record para mostrar aos investidores.”

A Crescera Capital fez a gestão do Criatec 2. Neste fundo, que captou R$ 186 milhões e realizou mais de 30 investimentos, a Triaxis Capital atuou como um assessor especial e ajudou nos investimentos.

A ideia é replicar a estratégia do Criatec 2, que está com um IRR (Internal Rate of Return) de 35%, já devolveu todo o capital investido pelos cotistas e ainda conta com 10 saídas para executar.

“O princípio vai ser o mesmo (do Criatec 2). Vamos procurar empresas de perfil similar e não temos nenhuma restrição de investimento”, diz Reinaldo Coelho, sócio da Triaxis Capital.

Reinaldo Coelho, da Triaxis Capital
Reinaldo Coelho, da Triaxis Capital

O plano é investir em mais de 30 empresas. O fundo, no entanto, tem um componente ASG (sigla traduzida do inglês que significa Ambiental, Social e Governança) e, pelo menos, 50% dos investimentos devem ser realizados em startups que atuem com cidades inteligentes, educação, saúde, tecnologias verdes, fintechs e gestão pública.

O estágio de investimento é seed, podendo chegar até a série A. Os cheques devem variar entre R$ 7 milhões e R$ 15 milhões, com follow ons para as startups do portfólio que estiverem se saindo melhor. “Até o fim deste ano, devemos fazer três investimentos”, diz Silva.

Apesar de ser um fundo para investir em startups early stage, Crescera e Triaxis buscam empreendedores que tenham “pé no chão”. Em outras palavras, que não queimem caixa por queimar caixa e que mirem, desde a largada, um caminho para um crescimento saudável.

“Prefiro uma empresa que cresce 30% ao ano com 30% de margem do que uma que cresça 60%, mas queimando caixa”, afirma o sócio da Crescera Capital.

Com o Criatec 2, as duas gestoras fizeram algumas apostas que se mostraram certeiras. Em especial, na tese de fintech. Um exemplo é foi a Vindi, vendida para a Locaweb por R$ 180 milhões. Nesta saída, o retorno do capital investido foi de oito vezes.

A Locaweb comprou também a empresa de ERP Bling, localizada em Bento Gonçalves (RS), por R$ 524,3 milhões, na melhor saída do portfólio do Criatec 2. De acordo com Silva, o retorno sobre o capital investido, neste caso, foi de mais de 60 vezes.

Outro exemplo foi o da gaúcha Yller, que atuava na pesquisa, desenvolvimento, fabricação e fornecimento de implantes dentários. A empresa foi comprada pela Neodent, do grupo de origem suíça Straumann. Neste caso, o Moic (multiple on invested capital) foi de quase sete vezes.

De acordo com Silva, tanto o Criatec 2, como o agora 4, foram desenhados com uma lógica diferente de fundos de venture capital dos Estados Unidos, em que 20% das empresas precisam vingar e “pagar” todo o fundo.

O sócio da Crescera Capital explica que modelou o fundo para que um terço do portfólio possa quebrar. Outro um terço é o que Silva chama de empresas “zumbis”, que andam meio de lado e podem retornar ao menos o capital investido. E, por fim, o terço final, são as outliers, que são as startups vencedores.

Os fundos Criatec foram criados com o apoio do BNDES para investir em empresas inovadoras em uma época que o capital de risco era escasso no mercado brasileiro.

O primeiro Criatec surgiu em 2007 com um capital comprometido de R$ 100 milhões – 80% desses recursos eram do BNDESPar, o braço de investimento do BNDES.

O segundo, em 2013, levantou R$ 186 milhões e contou com mais cotistas além do BNDES. Entre eles, Banco do Nordeste (BNB), o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), o Banco de Brasília (BRB) e o BADESUL.

Um ano depois, com R$ 202 milhões, o terceiro Criatec foi captado. Agora, em sua quarta "encarnação", as turbinas estão esquentando para decolar.