Aos 11 anos de idade, a americana Danielle Baskin jogava o game RunEscape, uma plataforma que admitia múltiplos jogadores ao mesmo tempo e não impunha nenhuma narrativa. Eram os usuários que estabeleciam suas metas e missões. A de Baskin, no caso, era conquistar mais clientes.
"Comecei a entender o que as outras pessoas precisavam no game”, relembrou ela, em entrevista ao NeoFeed. “Então, levava meu avatar até uma floresta e vendia penas para os arqueiros que passavam por ali. O 'negócio' cresceu tanto que eu precisei até contratar funcionários."
O dinheiro do jogo era falso, mas as lições que saíram dali não. No mundo real, Baskin, hoje aos 32 anos, se tornou uma empreendedora serial. Desde então, ela já criou mais de 30 empresas.
A lista de negócios criados por Baskin inclui uma empresa de personalização de capacetes (Inkwell Helmets), outra que produz um carregador portátil em forma de pokebola (a bola do desenho Pokemón), uma marca de suéteres para drones (Drone Sweaters) e uma companhia que imprime logos em frutas e legumes (Branded Fruit). (Confira a lista completa no site de Baskin.)
Em comum, todos esses projetos têm um modelo de negócio bastante simples. “Eu crio os produtos, desenho um site e começo a vendê-los", diz Baskin, que afirma que sua metodologia requer pouquíssimo capital inicial. "Apenas invisto no domínio e, se precisar, na prototipação de um produto.”
A mais recente aposta de Baskin é a Dialup, uma startup que foi positivamente impactada pela crise sanitária e econômica. Trata-se de um app que conecta pessoas do mundo inteiro em ligações aleatórias. É uma espécie de rede social, só que através da voz.
“Colocamos essa ideia no ar pouco antes da pandemia e algumas centenas de pessoas estavam tirando proveito do aplicativo, mas vimos nossa base de usuários saltar para 25 mil por conta da crise”, afirma Baskin.
A ideia da Dialup é conectar via um aplicativo pessoas que não se conhecem através de chamadas por voz. Não há vídeos, nem fotos. As ligações podem ser aleatórias ou por interesse - quando se cadastram, os usuários informam os temas que gostam de conversar.
Embora não revele quantas pessoas trabalhem da Dialup, é possível ver, na página da startup, que, além de Baskin, que acumula o cargo de CEO, seu sócio Max Hawkins ocupa a posição de CTO e o engenheiro Max Goodhart assume a programação.
A companhia está contratando novos profissionais para integrar a equipe do projeto. O aplicativo é gratuito, mas os usuários podem contribuir ao escolher uma das três categorias de "apoiadores": US$ 5, US$ 10 ou US$ 15 por mês.
Como o negócio está ainda longe de ser lucrativo, Baskin assumiu outras atividades – algo comum na sua rotina de tocar diversos negócios ao mesmo tempo (a Inkwell Helmets e a Branded Fruit são empresas que seguem ativas).
Aproveitando o boom de máscaras de proteção por conta da pandemia, a empreendedora em série lançou também a Maskalike, uma empresa que cria máscaras que reproduzem o rosto de quem as usa. Os interessados precisam apenas fazer o upload de uma selfie no site da companhia e desembolsar US$ 30 por cada peça, que pode ser enviada para qualquer país.
O projeto tem mantido Baskin bastante ocupada, mas ela sabe que essa iniciativa não deve ser longeva. "Acredito que as vendas dessas máscaras aconteçam por mais uns seis meses", afirma a empreendedora.
A naturalidade com que trata os começos e os fins de negócios mostra que, para a americana, o fracasso não é nada demais. "Sim, às vezes a gente cria algo que parece legal, coloca à venda e ninguém compra”, diz Baskin. “Pode ser uma questão de timing ou de fatores externos que você não tem nenhum controle."
Isso não significa, porém, que Baskin viva em um "mundo cor-de-rosa", renegando as dificuldades dos empreendedores. “Pelo menos uma vez por semana penso em largar tudo e procurar um emprego tradicional”, afirma ela.
Apesar das dificuldades, Baskin nunca abandonou suas iniciativas. Ela conta que a maioria de seus projetos nasceu em conversas com amigos, em diálogos que começam com um "e se?" ou então "já pensou se existisse algo assim?".
Não que Baskin leve adiante todas as ideias malucas que já lhe passaram pela cabeça, mas aquelas que repercutem bem entre os amigos e que lhe coloque uma "pulga atrás da orelha", ela tira do papel. E quase sempre compensa.
“Em poucos dias vendi 2 mil daqueles carregadores pokebola online, tive até que suspender a comercialização e contratar gente para conseguir atender a demanda", diz Baskin.
Mesmo o polêmico suéter para drone foi um sucesso de vendas. No site da companhia, Baskin explica que o plástico fino dos aparelhos nem sempre é suficiente para proteger o sistema interno do equipamento contra temperaturas extremas. Nesses casos, as "roupas" ajudam. “E um monte de gente comprou”, afirma.
Todo o dinheiro que arrecada são reinvestidos em outros projetos. “Tenho uma relação bastante particular com dinheiro, porque acho que opero sob um sistema mental de sobrevivência”, diz Baskin.
Questionada se ela se considera uma empreendedora, Baskin responde que não. "Acho que um empreendedor toma decisões pensando em seu interesse financeiro e insiste em caminhos mais rentáveis”, afirma Baskin “Eu pondero outras coisas, como valores e prazer. Neste sentido, sou muito mais uma artista que uma empreendedora.”