A ABSeed, gestora de venture capital que tem como sócios Geraldo Melzer, Felipe Coelho, Franco Zanette e Marcelo Hoffmann, está fazendo o first closing do seu terceiro fundo voltado para investir na tese de software B2B na nuvem em empresas iniciais. Com o objetivo de chegar a R$ 150 milhões, a gestora já tem compromissos de quase a metade desse valor.
A captação avançou rápido porque o fundo nasce ancorado pelo casal Christiane Hufenussler e Paulo Mattos, empresários de Jaraguá do Sul (SC), que também estão comprando uma fatia minoritária da gestora e se tornando sócios estratégicos da ABSeed – não vão entrar na operação.
“Levantamos majoritariamente com os cotistas do fundo 1 e 2”, afirma Melzer, em entrevista ao NeoFeed (veja vídeo abaixo). Os cotistas da ABSeed são famílias, family offices, empreendedores e gestoras da Faria Lima, cujo nomes não são revelados. “Agora, vamos ao mercado.”
A tese do terceiro fundo é a mesma que norteou as duas primeiras captações da ABSeed, quando levantou R$ 40 milhões e R$ 100 milhões, respectivamente: companhias iniciais que tenham produtos SaaS (Software as a Service).
A novidade é que, por ser um fundo com mais recursos, a ABSeed vai assinar cheques que podem ser maiores. Antes, o valor médio era R$ 5 milhões. Agora, o cheque médio será de R$ 7 milhões – e valor máximo de R$ 10 milhões.
O aumento do valor dos cheques tem relação direta com o ownership que a ABSeed pretende ter nos investimentos que realizar a partir de agora: 15%. Antes, era de, no máximo, 10%.
“Entramos no estágio seed e acompanhamos até a séria A. Se temos 3% no business ou se tenho 15%, isso faz diferença. E isso reflete também o tamanho do novo fundo”, afirma Melzer.
O sweet spot das empresas que a ABSeed busca também teve uma ligeira mudança. Antes, a gestora olhava startups com renda média mensal baixa, na casa de até R$ 50 mil mensais. Agora, o alvo são companhias entre R$ 200 mil e R$ 400 mil de receita média mensal.
A ABSeed planeja também avaliar mais empresas da América Latina. A gestora fez, recentemente, um primeiro investimento no exterior na equatoriana Construex, que opera como um marketplace de fornecedores de produtos e serviços do setor imobiliário.
Geraldo Melzer, fundador da ABSeed, fala sobre o novo fundo da gestora:
O plano, agora, é estar mais aberto para startups da América Latina. Mas Melzer frisa que o Brasil segue como o principal foco de atenção da gestora. “Estamos aprendendo a fazer isso (investir na AL). E estamos abertos. Mas a preponderância são negócios no Brasil”, diz Melzer.
O objetivo do novo fundo é investir entre 12 e 14 startups. Até agora, em seus dois fundos, a ABSeed fez 20 investimentos e está concluindo três aportes, o que acaba com a fase de investimento do fundo 2 – só resta dinheiro para follow ons em algumas empresas do portfólio.
Desde que surgiu a ABSeed já fez três saídas. A venda da Movidesk para a Zenvia, que aconteceu em dezembro de 2021, por exemplo, garantiu o retorno de todo o capital comprometido no primeiro fundo da gestora.
A gestora também já saiu da MeeTime, comprada pela Sankhya, e deixou a Conta Simples – neste caso, a fintech fez uma rodada de R$ 200 milhões no começo deste ano e a ABSeed vendeu sua fatia. “Essa é a nossa tese: investir em seed e série A e sair em rodadas de séries B e C”, explica Melzer.
O fundo 1 tem ainda em seu portfólio empresas que estão performando bem, na visão de Melzer. Entre elas, a Swap, um banking as a service, a Aegro, uma “espécie” de Excel do agro, e a Asksuite, um chatbot que ajuda hotéis em vendas diretas e tem se aproveitado da onda da IA generativa.
De acordo com Melzer, o fundo 1 deve dar um retorno de 4 vezes o Moic (Multiple on Invested Capital), um indicador que mede quanto valor foi gerado ao capital investido. O TIR (taxa interna de retorno) estimado deve ficar entre 60% e 70%.
O fundo 2, por sua vez, ainda não teve nenhuma saída. No portfólio estão empresas como Gedanken, da área de supply chain, e a martech Uncover. “Estamos acabando de montar o portfólio. Agora, vamos começar a ter negócios.”
O desafio da ABSeed agora é captar no mercado. Até agora, a gestora conseguiu levantar quase a metade do fundo com os cotistas dos outros dois veículos de investimentos.
Não deixa de ser um bom sinal – afinal, quem já investiu está investindo de novo. Mas Melzer sabe que não será fácil, dado o cenário do mercado de venture capital.
No ano passado, os aportes em startups no Brasil tiveram uma queda de mais 60%, quando movimentaram US$ 3,1 bilhões, segundo dados da Distrito. Nos quatro primeiros meses de 2024, a queda foi de apenas 4%, com US$ 476,8 milhões em aportes.
Não só os aportes caíram, como também gestoras que foram ao mercado tiveram dificuldade de atingir o alvo de captação dado a fuga de capital para investimentos mais seguros, como a renda fixa.
“A classe de ativos está um pouco arranhada. Mas temos uma história bacana e um caminho claro”, afirma Melzer. “Não subestimo a dificuldade. Mas estou seguro de que vamos captar R$ 150 milhões.”