Nos anos de 2020 e 2021, quando a maré estava cheia, os principais fundos de venture capital presentes no Brasil assinaram cheques milionários que ajudaram na criação de duas dezenas de unicórnios, como são chamadas as startups avaliadas em, pelo menos, US$ 1 bilhão.

Mas há outro lado que pouco veio à tona nesse momento de exuberância do mercado de venture capital: o das saídas. E poucas gestoras souberam aproveitar tão bem desse período de liquidez como a DGF Investimentos, fundada por Sidney Chameh, em 2001.

Com mais de duas décadas de investimentos e sete fundos captados (quatro deles já encerrados), a DGF investiu em aproximadamente 50 startups ao longo desse tempo e fez 30 saídas. O que chama atenção é que metade delas aconteceu nos últimos 24 meses. Exatamente o período de euforia em torno das startups.

“Uma lição que aplicamos nesses últimos dois anos é que as janelas de liquidez não podem ser desprezadas”, diz Frederico Greve, sócio da DGF Investimentos, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed, que entrevista os principais gestores de venture capital e private equity do Brasil. “A nossa atividade é levantar capital, mas também devolver capital (aos investidores).”

A DGF já retornou R$ 1 bilhão os investidores, um múltiplo de seis vezes o capital investido. De todas as saídas, a venda da RD Station para a Totvs, que comprou 92% da startup de marketing digital por R$ 1,8 bilhão, em 2021, foi a que teve mais repercussão. A gestora foi o primeiro investidor institucional da companhia, em 2012. O negócio trouxe um retorno de 35 vezes o capital investido pela DGF.

Mas o maior negócio da DFG, em termos de múltiplos do capital investido, é um exemplo do jeito da gestora de investir. É a Daitan, uma exportadora de serviços de desenvolvimento de software, que foi vendida, em julho do ano passado, para a americana Encora, numa transação em dinheiro e ações. Poucos meses depois, ela foi adquirida pela Advent International, num negócio de US$ 1,5 bilhão.

Um detalhe importante: a Daitan foi um investimento do primeiro fundo da DGF, em 2002. Depois de 10 anos, a gestora estendeu o aporte para permitir que a empresa seguisse crescendo em vez de fazer a liquidação. “Foi uma decisão muito acertada e é o nosso melhor investimento”, afirma Greve. “O retorno do capital investido foi perto de 70 vezes.”

Outras saídas relevantes mostram também como o ciclo entre investir e deixar o investimento ficaram curtos neste momento de exuberância. É o caso do site de Reclame Aqui e da plataforma de gestão de relacionamento online Stilinge, da safra de 2017. O primeiro foi comprado pela Stone em 2021. A segunda foi adquirida pela Take Blip.

Agora, a gestora, que tem também com sócios Daniel Heise, Henrique Uehara e Henrique Ferreira, já começou a campanha de investimento de seu sétimo fundo, que está perto de fechar a captação de US$ 50 milhões. Quatro investimentos já foram feitos. O primeiro deles foi na Tractian, que faz monitoramento de ativos e máquinas e gestão de operação industrial online.

A DFG investiu também na SafeSpace, um software para gestão de compliance e canal de denúncias corporativas; na DEX Screener, uma plataforma de informações sobre criptomoedas; e na Kyte, um sistema de gestão de e-commerce para pequenas empresas.

A previsão é montar um portfólio com cerca de 10 empresas, no período de dois a três anos. A tese é uma evolução daquela na qual a DFG começou: o software. Os investimentos, agora, se concentraram em SaaS (Software as a Service).

Os cheques médios variam entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões em rodadas seed e série A. “Vamos manter nosso ritmo e não vamos ter tantos investimentos por ano”, diz Greve. “Fazemos de um a três investimentos por ano. Gostamos de investir com calma.”

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo abaixo, Greve conta a origem da DGF Investimentos (para quem não sabe, ela é uma “costela” do Banco Fator), analisa o período de exuberância dos últimos dois anos e explica em detalhes a tese da gestora. Acompanhe mais um episódio do Café com Investidor.