Austin - Um painel escondido para uma plateia de menos de 300 pessoas teve capacidade esgotada e fila de espera na manhã de terça-feira, 14.
O tema proposto pelo SXSW, o acrônimo do South by Southwest, o maior festival de inovação do mundo, era uma mistura de clickbait com livro de autoajuda: "7 segredos surpreendentes de unicórnios de sucesso". A coach de executivos Alisa Cohn prometia entregar a fórmula para quem quer ser uma startup bilionária.
Autora do livro From Start-up to Grown-Up, Cohn exibe um currículo de mentoria de startups como a rede de geolocalização Foursquare, o app de pagamento Venmo, a plataforma de apostas esportivas DraftKings e o e-commerce de produtos feitos a mão Etsy. E um começo de apresentação surpreendente que fez a maioria dos celulares mirarem a tela.
O primeiro tópico mostrava um gráfico com a idade dos fundadores dos unicórnios. O resultado foi que mais de 50% tinham passado a casa dos 35 anos quando tiveram a ideia do negócio.
O universo apresentado por Cohn estava restrito a 195 startups criadas a partir de 2005 e que cruzaram a barreira do US$ 1 bilhão em valores de mercado - mas os nomes delas não estavam disponíveis.
“O Erick Yuan, quando criou o Zoom, tinha 41 anos. Minha experiência mostra que o fundador de um unicórnio já falhou em uma ou duas tentativas de startups”, disse ela, ressaltando que essa “falha” englobava pequenos sucessos com a venda de pequenos negócios por alguns milhões de dólares.
O argumento de Cohn é que a maturidade ajuda a separar o que é uma ideia ruim - “você não se apega a ela e deixa ir embora” - de uma visão única de negócio novo. E principalmente o empreendedor não acumula o sentimento de culpa por não insistir.
“Autoconsciência, visão, agilidade e gestão da própria psicologia criam startups que serão unicórnio”, disse Cohn.
Outro aspecto interessante da apresentação de Cohn foi a quantidade de sócios para startups bilionárias. Entre esses 195 unicórnios apresentados por ela, 35% tinham dois cofundadores e 30% três pessoas.
“60% das startups morrem em razão de conflitos entre os fundadores”, diz a especialista. “O relacionamento é o ponto mais importante. Não é preciso ter as mesmas ideias, mas a conexão é a parte mais importante desse relacionamento.”
Por esse motivo, ela explica que a startup mais difícil de ser construída para chegar ao bilhão é entre familiares, sejam irmãos, parentes ou casais. Isso porque muitos não delimitam quando se está discutindo sobre a família e quando se está falando sobre o negócio. E o cruzamento dessas linhas é fatal.
Mas a dica mais importante de Cohn para transformar uma startup em unicórnio é simples: ter uma cultura bem sólida desde os primeiros dias. Essa desinformação pode ser fatal para alimentar uma cultura tóxica no ambiente e impedir o rápido crescimento.
Para quem espera uma fórmula pronta, a especialista trouxe dois exemplos de empresas bem-sucedidas que definiram a sua cultura de forma diferente.
A cultura da Amazon, por exemplo, é descrita com a obsessão pelo cliente, a paixão pela inovação, a excelência operacional e o pensamento de longo prazo. O oposto disso é a plataforma de comunicação SendGrid, que estabeleceu apenas quatro palavras: honestidade, felicidade, humildade e fome.
“Não importa se são apenas quatro palavras. A cultura de uma empresa não é feita de belas palavras ou do bônus, mas da clareza e da intenção do que você realmente é.”