Pergunte a Daniel Izzo, sócio do fundo Vox Capital, como ele era recebido em bancos em 2009, quando criou a sua gestora para investir em startups que causassem impacto social?
Com uma leve risada, ele relembra que tinha três tratamentos. O primeiro deles era irônico. “Vocês são muito bonitinhos, uma graça”, diziam alguns interlocutores. Outros eram céticos. “Não entendo como obter retorno financeiro com investimento de impacto”, questionavam. E, por fim, havia os bravos. “Como você ousa falar isso?”
Mais de 10 anos depois, o tratamento que o sócio da Vox Capital recebe atualmente é bem diferente. “Agora, é uma corrida desesperada. Mudou e mudou muito”, diz Izzo, ao programa CAFÉ COM INVESTIDOR, que entrevista os principais gestores de venture capital do Brasil, no NeoFeed. “A nossa tese é que o impacto social ao longo do tempo caminha de mãos dados com maior retorno financeiro.”
Com aproximadamente R$ 200 milhões sob gestão e captando um terceiro fundo, a Vox Capital já investiu em mais de 30 startups nesse período. São empresas como a Magnamed, que foi fundamental para a produção de respiradores para enfrentar a pandemia da Covid-19, ou a Sanar, startup de educação ligada ao setor de saúde.
A gestora faz cheques que começam em R$ 3 milhões e podem ir até R$ 8 milhões e entra no estágio seed e série A. O novo fundo será majoritariamente para investimentos em série A, podendo chegar a B. Os setores preferidos são os de educação, saúde e serviços financeiros. “São setores enormes da economia e cheios ainda de necessidades básicas.”
Mas qual a diferença da análise de um investimento feito por uma gestora de venture capital tradicional em comparação à Vox Capital? “Temos um processo de avaliação similar: olhamos o time, o modelo de negócio e a escalabilidade do produto”, afirma Izzo. “Mas temos um tema extra: olhamos o impacto.”
A gestora faz uma espécie de workshop com os fundadores da startup em que quer investir para entender o impacto que ela quer causar e identificar seus principais indicadores. “Queremos um empreendedor que não precisa carregar a bandeirinha de ONG, mas precisa valorizar a solução que sua empresa está se propondo a fazer”, diz Izzo.
Um exemplo é a fintech Avante, que fornece microcrédito para pessoas de baixa renda. Além de saber quantas pessoas estão usando o serviço e se estão conseguindo pagar, Izzo vai além. “Quero saber também se o ganho de produtividade de quem pegou o empréstimo é maior do que ele está pagando em juros.”
No caso da Avante, foi identificado que, na média, quem pegava crédito com a startup ganhava em produtividade. Mas isso não acontecia com homens jovens. “Se não dá certo, precisa melhorar a proposta de valor do produto e dar alguma coisa para ele se preparar para poder pagar”, afirma Izzo.
Outro exemplo do portfólio é a CelCoin, um aplicativo que funciona como um correspondente bancário que permite pagamento de contas e recarregamento do celular. O aplicativo tem sido usado por mais de 32 mil pequenos comerciantes no interior do Brasil com pouco acesso à rede e serviços bancários.
“Em média, eles ganharam entre R$ 250 a R$ 300 de incremento de renda por oferecer o serviço”, diz Izzo. Em julho, a CelCoin transacionou mais de R$ 1 bilhão com o pagamento de 9 milhões de contas de 2,5 mil cidades brasileiras.
Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Izzo conta sua trajetória profissional e fala da onda ESG (Environmental, Social and Governance).