Se existe uma coisa que o americano Jimmy Wales sabe fazer com competência é falhar. Não se trata de ironia, ele próprio reconhece o “mérito”.
Antes de lançar a Wikipedia, projeto que lhe alçou ao mural da fama da internet e hoje é o quinto site mais acessado do mundo, Wales tentou três outros negócios. E todos fracassaram.
“Se você quer ser um empreendedor de sucesso, você precisa se acostumar com a ideia de errar e errar e errar muito”, disse ele, que foi um dos principais palestrantes da Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE), organizada pela Associação Brasileira de Startups, em São Paulo. “Mas falhe rápido.”
A primeira ideia de Wales que fracassou foi um site no qual as pessoas poderiam pedir comida diretamente para os restaurantes em Chicago, nos Estados Unidos, em meados dos anos 1990. Não deu certo porque a internet estava apenas começando. “Foi uma ideia brilhante, mas era ainda muito cedo”, disse ele.
O segundo projeto a falhar foi mais ambicioso. Quando o Google ainda não era o Google – quer dizer, não tinha o poder e a influência atual – Wales criou um buscador. Seu modelo para ganhar dinheiro era cobrar pelos cliques ou enviar tráfego para alguns sites, dando créditos. Deu tudo errado. “Fui sequestrado por spammers chineses”, afirmou Wales.
A terceira ideia que não deu certo foi a gênese da Wikipedia. Wales criou uma enciclopédia online escrita apenas por especialistas e doutores. Ele gastou US$ 250 mil só para os 12 primeiros artigos e naufragou mais uma vez.
Foi então que Wales teve a ideia de abrir os artigos para a edição de qualquer pessoa. Assim surgiu a Wikipedia, uma enciclopédia feita com a colaboração dos usuários de internet e sem publicidade. “Foi uma ideia estúpida, sem modelo de negócio, mas que deu certo”, disse Wales.
Hoje, a Wikipedia conta com um audiência de 600 milhões de pessoas por mês e está disponível em mais de 280 línguas. A Wikipedia sobrevive até hoje por meio de doações dos usuários. “Apenas uma pequena fração paga para manter o serviço. A maioria não paga nada e está totalmente OK”, afirmou Wales.
Agora, Wales quer aplicar o que deu certo na Wikipedia para criar um anti-Facebook. Mas não sem antes falhar de novo - sua grande especialidade.
Em 2017, Wales lançou uma plataforma de notícias de colaboração aberta chamada WikiTribune, destinada a combater notícias falsas. O objetivo era salvar o jornalismo na era da chamada "pós-verdade". No entanto, esse projeto falhou e, em 2018, ele teve que deixar de lado sua equipe de jornalistas.
É da costela da WikiTribune que nasce a WT.Social, uma nova rede social que quer ser exatamente o oposto do Facebook, de Mark Zuckerberg, e que se autodefine como “focada em notícias”.
Assim como a enciclopédia online, não há publicidade. O modelo de negócios é baseado em doações feitas por usuários. “Eu preciso que apenas 200 paguem”, afirmou Wales.
Mas o que Wales não espera era que a WT.Social atraísse tantos interessados logo de cara. Com menos de um mês, a WT.Social já conquistou 350 mil usuários. “Não estávamos prontos para tanto sucesso”, disse Wales.
O NeoFeed se cadastrou na rede social de Wales e descobriu que existe uma fila de espera de 140 mil pessoas – o site alega que isso é feito por conta da infraestrutura tecnológica, que não estava preparada para suportar um acesso tão grande.
O pedido de doação é de R$ 25 mensais ou R$ 249 anual. “As pessoas estão pagando voluntariamente seguindo nossas expectativas”, afirmou Wales.
A WT.Social tem a cara da Wikipedia. A interface é bem simples e sem nenhum apelo visual. Você escolhe assuntos que lhe interessam e, a partir dessa seleção, os algoritmos começam a trabalhar para lhe mostrar assuntos relacionados aos seus temas de preferência.
Mas quem selecionará os artigos são as próprias pessoas da comunidade. Os posts vão aparecer por ordem de publicação, semelhante ao que acontecia na origem do Twitter – hoje, a rede social do pássaro azul tem um modelo misto, que mescla recomendações do algoritmo, com posts em ordem de publicação.
Será que a WT.Social será um sucesso, como a Wikipedia, ou um fracasso, como vários dos negócios de Wales? Ele próprio responde. “Será um sucesso para mim se construirmos uma pequena comunidade que eu me divirta”, afirmou o fundador da Wikipedia. A diferença entre o fracasso e o sucesso, muitas vezes, é apenas o nível de expectativa.