Durante muitos anos Israel foi considerado um berço de startups. Empresas como Waze e Monday.com surgiram no país e ganharam o mundo – até pela necessidade de fazer isso devido ao reduzido número de consumidores no mercado local. Agora, contudo, funcionários de companhias de tecnologia do país terão que se dedicar a outras tarefas.
O governo de Israel deve convocar cerca de 300 mil reservistas (inclusive alguns que moram e trabalham em outros países) para lutar na guerra que eclodiu no sábado, de 7 de outubro, quando um ataque realizado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) deixou mais de 900 mortos em Israel.
Até o momento, cerca de 10% dos funcionários das startups Armis e Pentera foram convocados para fazerem parte das reservas militares israelenses na ofensiva contra o grupo terrorista. Cada empresa tem cerca de 200 empregados baseados no país.
“Temos alguém que, na sexta-feira passada, trabalhava num escritório como gestor de vendas, e hoje está vestindo um uniforme e a tendo que servir na fronteira de Gaza”, disse Amitai Ratzon, CEO da Pentera, ao The Information. “Não é uma escolha, é obrigação.”
Em comum, Armis e Pentera operam com negócios de segurança cibernética, que são altamente demandados pelos serviços de inteligência do governo de Israel. Além dos funcionários dessas startups, fundadores e executivos de alto escalão de outras empresas do setor também estariam envolvidos em um esforço de contra-ataque de Israel.
“Esse é um dos ingredientes secretos da alta tecnologia israelense”, disse Segundo Tomer Landesman, investidor da Pitango, empresa de capital de risco israelita com US$ 3,5 bilhões sob gestão. “Essas pessoas adquiriram experiência, conhecimento e experiência nas Forças Armadas.”
Segundo Landesman, que atuou durante 31 anos como tenente Forças de Defesa de Israel, entre 5% e 15% dos seus contatos na comunidade tecnológica foram convocados para o serviço militar. Ele também espera ser chamado para integrar às Forças Armadas.
Sua gestora, a Pitango, é apenas uma das investidoras que estão por trás do desenvolvimento do setor de segurança digital de Israel. No ano passado, cerca de um terço dos US$ 18 bilhões levantados por startups do país foram para empresas voltadas para este segmento. Parte deste dinheiro vem de empresas de capital de risco estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos.
Nos últimos dias, inclusive, algumas dessas companhias também se posicionaram em relação à guerra declarada pelo premiê Benjamin Netanyahu. Empresas como Insight Partners, Battery Ventures e General Catalyst se comprometeram com a doação de milhões de dólares para auxiliar na evacuação de pessoas de áreas de risco e na entrega de alimentos.
Além das startups, grandes empresas de tecnologia que possuem escritórios no país também podem ter suas operações impactadas pelos conflitos. O Google emprega cerca de 2,2 mil pessoas em Tel Aviv e Haifa, enquanto a Microsoft tem cerca de 2 mil funcionários em Tel Aviv – a maior parte trabalha com pesquisa e segurança digital.
O ecossistema de tecnologia de Israel é um dos mais relevantes do mundo, e representa um quinto do PIB do país e 14% dos empregos. Por lá estão mais de 6 mil startups, das quais mais de 60 já atingiram o status de unicórnio ao ultrapassaram valor de mercado de US$ 1 bilhão.
Entre essas empresas está a Rapyd, de serviços financeiros, que está avaliada em mais de US$ 10 bilhões, a companhias de segurança digital Wiz e Snyk, que valem US$ 10 bilhões e US$ 8,5 bilhões, e a Fireblocks, que opera no setor de cripto, com valuation superior a US$ 8 bilhões.