Em dezembro de 2021, pouco antes de embarcar para uma estadia de 12 dias na Estação Espacial Internacional (ISS), a bordo da espaçonave russa Soyuz, o bilionário japonês Yusaku Maezawa comparou sua felicidade a de um estudante do ensino fundamental prestes a sair para um passeio. “Achava que não conseguiria ir ao espaço. Por isso, me sinto afortunado com essa oportunidade”, descreveu.

E, de fato, se o assunto é o espaço, o fundador da Zozotown, o maior shopping de moda online do Japão, é só sorrisos. Nas fotos e vídeos, ele sempre transparece aquela alegria típica dos adolescentes a um passo de realizar um sonho. Maezawa não aparenta seus 47 anos de idade.

Foi assim lá no Cosmódromo de Baiknur, no Cazaquistão, base de lançamento do foguete russo, e foi assim agora, ao posar ao lado de Nobu Okada, CEO da Astroscale, ao anunciar o aporte de US$ 23 milhões na empresa de remoção de detritos espaciais, com sede em Tóquio.

O investimento de Maezawa faz parte de uma rodada de captação de US$ 76 milhões da empresa, da qual participaram também a Mitsubishi Electric, Mitsubishi UFJ bank, Mitsubishi Corporation, Development Bank of Japan e FEL Corp.

Desde a sua fundação em 2013, a Astroscale arrecadou cerca de US$ 376 milhões. Com escritórios e laboratórios no Japão, Reino Unido, Estados Unidos e Israel, uma nova sede global deve ser inaugurada em maio, em Tóquio. Até o momento, a missão mais importante da spacetech foi a ELSA-d (End-of-Life Services by Astroscale-demonstrantion).

Em março de 2021, a companhia comprovou o sucesso de sua tecnologia para a captura magnética do lixo que vaga pelo espaço. Na ocasião, o imã desenvolvido pela Astroscale tirou de órbita uma espaçonave de 175 quilos. Nos últimos anos, com o aumento no número de lançamentos de satélites, os dejetos começaram a se acumular na órbita baixa da Terra, entre 350 e 2 mil quilômetros da superfície terrestre.

Nas contas da NASA, a agência espacial americana, existem cerca de 25 mil detritos orbitais com tamanhos superiores a dez centímetros. Para partículas entre um centímetro e dez centímetros, as estimativas chegam a meio milhão. Para as de um milímetro, ultrapassam 100 milhões. O grande perigo é a velocidade na qual esses objetos se movem – a mais de 28 mil quilômetros por hora, transformando-os em verdadeiros projéteis.

O mundo depende de satélites mais do que nunca, na avaliação do CEO da Astroscale. E, se o ambiente orbital for interrompido ou se tornar-se inutilizável, nossas vidas mudarão de maneira irrevogável. A spacetech tem projetos com os governos japonês, britânico e americano.

“Como alguém que visitou o espaço, entendo os imensos perigos representados pelos detritos em órbita”, diz Maezawa, em comunicado. “Quero proteger o futuro das viagens espaciais, por isso, decidi contribuir para a missão da Astroscale de reduzir os dejetos orbitais.”

Também pudera, o magnata pretende se lançar novamente ao espaço ainda esse ano. Com o projeto dearMoon, Maezawa que ir ainda mais longe e dar uma volta ao redor da Lua, em um foguete da Space X, do bilionário sul-africano Elon Musk.

Para a viagem, ele convidou algumas celebridades do mundo das artes. Entre elas, estão Tim Dodd, youtuber americano; Yemi A.D., coreógrafo e performer tcheco; Rihannon Adam e Karin Iliya, fotógrafos irlandês e britânico, respectivamente; Brendan Hall, cineasta americano; e Dev Joshi, ator indiano.

“Eles terão de criar algo quando voltarem à Terra e suas obras inspirarão todos os sonhadores latentes em nós”, contou, ao ser apresentado por Musk, em dezembro do ano passado. Se tudo der certo, Maezawa e sua comitiva serão os primeiros turistas civis lunares. A missão está orçada em US$ 5 bilhões e o empresário japonês financia parte da operação. “Escolhi ir à Lua! Era meu sonho de infância”, comemorou.

Além do espaço, como se vê, Maezawa também tem forte ligação com as artes, sobretudo a contemporânea. Em 2012, ele fundou a Contemporary Art Foundation, de apoio a jovens artistas. Com uma fortuna avaliada em US$ 1,7 bilhão, no final de 2022, pela Forbes, sua coleção conta com obras de Jean-Michel Basquiat, Roy Lichtenstein, Andy Warhol, Alexander Calder, Donald Judd, John Chamberlain e Pablo Picasso.

Em 2016, ele foi a pessoa a pagar mais caro por uma pintura de Basquiat – US$ 57,3 milhões por um quadro sem título do pintor americano, de 1982. No ano passado, Maezawa vendeu a mesma obra por US$ 85 milhões, na galeria Philips, de Nova York. O magnata também possui outro “sem título”, de Basquiat, datado de 1981, pelo qual pagou o preço recorde de US$ 110,5 milhões.

Maezawa, ele próprio, já foi um artista. Antes de entrar para o mundo dos negócios, ele teve uma banda, a Switch Style, que chegou inclusive a gravar um CD, pelo selo japonês BMG. seu primeiro empreendimento foi uma revendedora de CDs importados, até que, em 1998, fundou a Zozotown.

Há quatro anos, ele abandonou o cargo de CEO e vendeu 30% de sua participação na gigante de moda online ao Yahoo Japão, em uma transação avaliada em US$ 3,7 bilhões, no total. Hoje Maezawa vive a sonhar com o espaço e a tocar sua fundação de arte contemporânea.