Eduardo Gouveia sabe o que é liderar em grandes companhias e, mais do que isso, sabe o que é transformá-las. Ex-presidente da Cielo, da Alelo, da Livelo e da Multiplus, Gouveia construiu uma trajetória sólida no topo do mundo corporativo.
Mas foi fora das salas de reunião que ele encontrou o que hoje considera o segredo para resultados extraordinários: a felicidade no ambiente de trabalho. Convidado do programa do NeoFeed Humanamente Possível, Gouveia defendeu a tese de que empresas com ambientes mais leves, colaborativos e humanos performam melhor.
“Acredito muito que felicidade dá lucro”, afirmou Gouveia, ao apresentador Leonel Andrade. “Um ambiente mais engajado, mais aberto, mais transparente, mais fácil dá resultado.”
Ao longo da entrevista, Gouveia compartilhou lembranças em que promoveu rituais de celebração, reconheceu conquistas, aproximou lideranças dos funcionários, criando espaços seguros para que as pessoas pudessem ser, antes de tudo, humanas.
“Esse cuidado com pessoas da minha carreira foi feito em cima de ritos e símbolos, de celebração e reconhecimento. Então, sempre provoquei muito isso por onde passei”, disse Gouveia.
Um dos exemplos foi o dia em que levou sua mãe para conhecer a Alelo. O objetivo era fazê-la entender o que o fez ir para São Paulo em vez de apenas dizer que o filho vendia “um cartão verde que compra comida”.
“Ela saiu de lá dizendo: ‘Hoje eu entendo porque você saiu da minha casa’. E me pediu: ‘Faça isso pelos pais dos seus funcionários’. E eu fiz. Comecei a convidar os pais para conhecerem o local de trabalho dos filhos. Era um dia de glória.”
Gouveia ainda assinala que a proximidade da liderança com equipes pode resultar em maior engajamento. Uma das histórias que contou no programa ilustra isso de forma quase cômica: após perder a carteira de motorista, passou a ir trabalhar de fretado. A iniciativa gerou boatos de que ele estava espionando os funcionários — o que não era verdade.
“Eu comecei a oferecer pão de queijo e Toddynho no fretado. Depois, coxinha. Virou um self-service”, riu. “Mas isso criou uma relação muito próxima com a galera.”
O executivo reconhece que, durante décadas, o ambiente corporativo foi dominado por uma visão de meritocracia e competitividade extrema — algo que ele também viveu.
Mas, nos últimos anos, especialmente após deixar a vida executiva, passou a repensar esses valores e a se dedicar a novos papéis: é hoje conselheiro de empresas, investidor de startups e mentor de jovens empreendedores. Atualmente, escolhe investir sua energia e tempo em ambientes em que se sinta útil, executando tarefas que lhe dão prazer.
Para Gouveia, a nova geração traz um olhar mais equilibrado sobre trabalho e propósito. Ao conviver com fundadores de startups — ele já acelerou 14 delas — ele afirma que se sente rejuvenescido. “Eu pago um passe para aprender com essa molecada, e eles me rejuvenescem.”
Ao ser perguntado sobre que conselho daria aos jovens, ele respondeu sem rodeios: “Fazer o certo e entregar um pouco mais do que te pedem, eticamente. Sempre fazer bem feito. E cuidar das relações com mais carinho e atenção. Se doe sem esperar nada em troca. Construa a relação quando você não precisa de nada, porque ela volta depois.”