Falar em perdão ainda causa desconforto. A palavra carrega o peso da religião, a ideia de fraqueza ou de submissão. Mas, para além do discurso espiritual, o perdão pode ser compreendido como uma força emocional e psicológica ou, até mesmo, um tipo de inteligência que permite retomar o controle da própria vida.
“Perdoar é libertar-se do algoz”, diz Heloísa Capelas, CEO do Centro Hoffman e especialista em autoconhecimento, em entrevista ao Humanamente Possível, programa do NeoFeed. “O perdão não serve para o outro, serve para você. É você quem solta a algema e se livra da dor que te aprisiona.”
Essa perspectiva, que mistura neurociência e psicologia, é o eixo central do Processo Hoffman, curso internacional de autoconhecimento do qual Heloísa é a representante no Brasil.
Durante sete dias de imersão, participantes que vão de executivos a artistas são conduzidos a revisitar suas histórias, identificar padrões familiares e ressignificar suas emoções, com o objetivo de mudar a forma de se relacionar com o passado.
“Parece que o algoz tem que pagar a conta e eu preciso adoecer para o algoz saber o que ele fez, para ele nunca esquecer”, afirma. “Eu não vou ser feliz para eles terem culpa. Só que eu não sei que estou fazendo isso. É tudo inconsciente.”
A ideia pode parecer abstrata, mas é observável. Diversos estudos mostram que ressentimentos prolongados ativam circuitos cerebrais ligados ao estresse, liberando hormônios inflamatórios que afetam o corpo inteiro.
Não é à toa que, para Heloísa, perdoar é também um ato de autocuidado. “Se a gente não tomar consciência e não puder perdoar, esse lixo vai nos enterrar”, diz.
Essa transformação, porém, não é imediata. No Processo Hoffman, o caminho passa por compreender que “ninguém é o que é porque quer”. De acordo com o método, somos, em grande parte, repetições inconscientes dos nossos pais, desde suas crenças até medos e comportamentos.
Por isso, Heloísa acredita que perdoar o passado é o único caminho para romper esse ciclo. Na visão da mentora, é necessário deixar de achar que o perdão é um favor ao outro e entender que o ato é um presente a si mesmo.