“A liderança começa na reputação”. Com essa afirmação, a PhD em psicologia organizacional Lívia Mandelli abre uma discussão que considera urgente para o mundo corporativo: a desconexão entre o cargo de liderança e a capacidade real de liderar.

No programa Humanamente Possível, do NeoFeed, Lívia afirma que as empresas continuam promovendo profissionais brilhantes tecnicamente, mas despreparados emocionalmente para o papel. “Tem muita gente que chega a uma posição de liderança, mas que não tem a musculatura emocional e comportamental para a liderança”, diz.

O modelo antigo, baseado na lógica do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, já não encontra espaço no mercado atual, na visão de Lívia. “A liderança de hoje exige autoconhecimento na medida certa, já que o excesso também pode ser paralisante."

A especialista acredita que o comportamento do líder se tornou determinante não apenas para resultados, mas para a permanência das pessoas nas empresas. Essa mudança coloca a responsabilidade diretamente sobre a liderança: criar um ambiente onde valha a pena ficar. “As pessoas procuram com quem elas querem trabalhar e não onde elas querem trabalhar”, afirma Lívia .

É nesse ponto que entra o conceito de reputação, que, para Lívia, é o principal ativo de um líder. Ela define reputação como uma equação simples e inegociável: a soma das inteligências emocional e social, mais constância. “Você ter uma atitude legal não te dá uma boa reputação. Você precisa ter 365 atitudes boas num ano”, diz.

Essa constância depende de consciência e de vigilância permanente. Por isso, Lívia recomenda que os líderes registrem diariamente três perguntas: onde erraram a mão, onde acertaram e o que farão de diferente no dia seguinte. Esse exercício, segundo ela, evita a armadilha de acreditar que o cargo legitima comportamentos reativos, explosivos ou incoerentes.

Livia também alerta sobre o esgotamento de mulheres em posições de topo, por razões que vão desde sobrecarga doméstica até a falta de equidade nos ambientes corporativos. E endossa seu ponto de vista com um dado alarmante do Fórum Econômico Mundial: serão necessários 153 anos para as mulheres alcançarem a paridade de gênero.