Em vez de apenas observar a concorrência para entender as oportunidades de inovar, um biólogo brasileiro sugere olhar para fora do ambiente corporativo para ter ideias melhores.
Em entrevista ao programa Humanamente Possível, Guilherme Gennari, explicou como a biomimética (ciência que observa e traduz as estratégias da vida selvagem) pode ajudar lideranças a desenvolver estratégias que levem ao crescimento sustentável nos negócios.
Gennari defende que não se trata apenas de teoria. Com passagem por grandes organizações, como Votorantim e Unilever, onde comandou as operações da Ben & Jerry’s no Brasil, o biólogo destacou exemplos que já foram implementados.
“O velcro só foi criado quando se observou na natureza o picão, o carrapicho, grudando no tecido, grudando no pêlo de cachorro e olhando a microestrutura. E aí se chegou na criação do velcro. Isso é um exemplo. Inovação para resolver tanto produto, serviço, forma. Ou você pode usar biomimética para desenho de organização, capacitação de liderança e desenvolvimento”, explicou.
O biólogo ainda contou sobre uma estratégia adotada na Índia que reduziu drasticamente o desperdício de alimentos no transporte, que representava um prejuízo de US$ 12 bilhões ao ano. Algumas regiões, tinham ainda 40% de perda no transporte de frutas e verduras.
“Quando os pesquisadores olharam como a natureza evita o apodrecimento de frutas, viram que era uma comunicação de hormônios voláteis. Então, eles colocaram isso no sachê de papel e acrescentaram um sachê em cada caixa”.
No âmbito corporativo, Gennari propõe a adoção da liderança natural, baseada menos em competição e mais em colaboração. Ele sugere que executivos abandonem o “complexo de cérebro da organização” e deem autonomia às equipes, assim como o corpo humano distribui funções sem depender apenas do comando central. Para ele, descentralizar acelera decisões e aumenta a adaptabilidade.
“Desde criança, somos ensinados que a competição é a força motriz. Na verdade, é o contrário. Quando você olha a natureza, a competição é muito custosa para se ter o tempo inteiro ativa. Então, se eu for colocar aqui, é 90% colaboração e 10% competição. Somos treinados a assumir cargos executivos achando que é uma competição o tempo inteiro.”