O dinheiro nem sempre foi farto para a Logcomex. Bem antes de captar mais de R$ 200 milhões junto a gestoras como Riverwood Capital, Endeavor Catalyst, Alexia Ventures e Igah Ventures, Helmuth Hofstatter, fundador e CEO da companhia que presta serviços de comércio exterior, precisou até mesmo se virar como motorista de aplicativo.

Isso aconteceu ainda 2016, quando a Logcomex ainda estava longe de ter os atuais 2,5 mil clientes. Na época, a startup estava passando por um programa de aceleração em Curitiba. Para economizar dinheiro, o fundador precisou de ajuda para bancar as viagens que fazia de Paranaguá até a capital paranaense.

Hofstatter conta que precisou fazer deslocamentos diários durante um período de cinco meses. “Era muito caro por causa da gasolina e do pedágio”, afirma Hofstatter, em entrevista ao Vida de Startup, uma produção original NeoFeed. “Então, eu fiz um perfil no BlaBlaCar e cobrava R$ 20 por pessoa que pegava carona.”

Nesse período, além de enfrentar o trânsito entre as duas cidades, o empreendedor precisou descobrir uma forma de fazer com que sua empresa atingisse um ritmo de crescimento acima de 20% ao mês. Se não atingisse a meta, a companhia não receberia o dinheiro do programa de aceleração.

“Se você não crescia naquele percentual, eles seguravam os cheques”, diz Hofstatter, que afirma que recebia em torno de R$ 25 mil por mês no programa. O dinheiro era todo alocado na operação da Logcomex, que até então tinha menos de dez funcionários.

O pouco capital disponível naquela época fez com que o fundador aprendesse a economizar dinheiro. “A restrição é importante no processo inicial das empresas. A inovação só acontece quando há restrição”, diz Hofstatter. “Eu não tinha muito foco, era um empreendedor de primeira viagem.”

A primeira captação institucional só veio em 2020, quase quatro anos após a fundação do negócio. O dinheiro de uma rodada seed seria usado para permitir entrada da companhia no mercado de importadores e exportadores. Até então, a logtech só operava com operadores logísticos.

Mas essa captação também enfrentou desafios. “Não fizemos o dever de casa”, afirma Hofsttater. Ele diz que a companhia deveria ter feito um roadshow para conectar mais investidores ao negócio em vez de ter feito a captação de forma mais rápida. “Poderia ter sido melhor se eu tivesse feito uma captação melhor.”

Além de não ter atraído tantos investidores, Hofstatter lembra que a captação foi afetada pela pandemia, recebendo menos dinheiro do que havia sido conversado inicialmente. “Ligamos para os investidores e ouvimos que eles estavam com crise de liquidez”, lembra o empresário.

Em novembro do ano passado, a Logcomex deu mais um passo no mercado de venture capital e captou uma rodada de série B de R$ 165 milhões liderada pela Riverwood Capital. O dinheiro veio para expandir a estratégia de M&As da companhia e apoiar um projeto de internacionalização do negócio.

Atualmente, a Logcomex opera em modelo de software as a service, em que ganha dinheiro ao oferecer um plano de assinatura em que oferece diferentes serviços para empresas. Entre eles está uma plataforma para monitoramento e gerenciamento das cargas transportadas e uma área de análise que fornece dados sobre o setor.

Apesar de já ter mais de 2,5 mil clientes em 11 países, a companhia gera mais de 90% da receita no Brasil. “Queremos expandir geograficamente começando a expansão na América Latina por México e Colômbia”, afirma Hofstatter. Outro plano é trabalhar com uma frente no mercado financeiro para diversificar as frentes de receita para além do modelo de software as a service (SaaS).