A Petros conseguiu o objetivo de retorno dos investimentos para seus planos de benefício definido (que preveem um valor fixo da aposentadoria) neste ano, uma etapa fundamental para garantir o pagamento dos benefícios no futuro.

Com estratégia conservadora, o maior plano do fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, que detém cerca de R$ 126 bilhões sob gestão, acumula rentabilidade de 8,3% até setembro, acima do objetivo de retorno de 7,1%.

Esse resultado significa uma virada para a Petros. Os planos do fundo de pensão estavam com grave problema de déficits devido a problemas das gestões anteriores, ou seja, tinham um rombo recorrente e não conseguiam suprir a necessidade de pagamentos. Há dois anos, o executivo Paulo Werneck foi chamado para resolver esse problema.

“Conseguimos fazer a ‘imunização’ do plano e agora iremos pensar em uma alocação de risco pertinente para o restante da carteira”, afirma Werneck, diretor de investimentos da Petros, em entrevista ao NeoFeed.

Desde dezembro de 2021, quando assumiu a direção da fundação, Werneck vinha explicando ao mercado financeiro que a prioridade era equacionar os planos da Petros.

Traduzir a linguagem das fundações para o mercado financeiro é a especialidade dele. Executivo experiente com 35 anos de mercado financeiro e diversas passagens “do outro lado”. Ele estava como managing director na BTG Pactual Asset Management. Anteriormente, foi diretor de investimentos da Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa), além de ter passagens por Haitong, Icatu e ABN Amro Asset Management.

A estratégia do veterano passou pela renda fixa. Com a elevação das taxas de juros, a equipe de investimentos conseguiu comprar títulos públicos a taxas maiores que a necessária para garantir os pagamentos futuros. A meta atuarial hoje está em IPCA+ 4,5% ao ano.

Com isso, 82% da carteira do plano de benefício definido (que corresponde a 63% do patrimônio da fundação, em fase de pagamentos) está “imunizada” no casamento dos ativos com os passivos, garantindo o pagamento dos benefícios até o final, e evitando novos déficits.

Hoje, o plano está alocado com 84,4% em renda fixa, um aumento em relação aos 77,3% de dezembro de 2022. O restante está em renda variável (7,6%); investimento imobiliário (4,7%), onde a gestão vendeu alguns ativos e conseguiu reduzir a vacância em 42%, e também adquiriu fundos imobiliários, considerados descontados; investimento estruturado (0,5%); investimento no exterior (0,4%) e operações com o participante (2,4%).

A falta de clareza no mundo não coloca a fundação com pressa para tomar uma decisão. Para Werneck, mesmo que o mercado esteja descontado, não vale o risco de se posicionar antes de uma clareza de quando acontecerá a retomada dos ativos de riscos e perder o custo de oportunidade de estar no CDI.

“A taxa neutra de equilíbrio do mundo não está fixada. Tem inflação nos EUA, tem problema fiscal, tem guerra e precisamos ver os sinais do Fed para ver como vão ficar os juros lá fora. E aqui no Brasil também”, diz ele.

Construindo a nova Petros

Agora, a Petros está concentrada em elaborar a sua nova política de investimentos para os próximos cinco anos, além de apresentar novidades para seus participantes.

A Petros trabalha com a previsão de aprovação das políticas de investimentos dos planos no Conselho Deliberativo em dezembro, para divulgação aos participantes em fevereiro de 2024. Os planos têm horizonte de investimento de cinco anos, de forma que o que for decidido definirá os objetivos de investimentos de 2024 a 2029.

A aprovação passará por todos os comitês da Petros, como prevê sua nova política de governança corporativa, que blinda a entidade de disputas políticas e interesses não alinhados aos dos participantes.

“Essa é uma nova Petros. Temos os mais rigorosos ritos de governança que são religiosamente seguidos. E aqui definiremos quais são as prioridades da Fundação”, afirma Werneck.

O mercado financeiro sempre aguarda ansiosamente essas decisões para ver como está o apetite das grandes fundações. O aporte em private equity, por exemplo, está entre os temas mais esperados. E Werneck deu algumas pistas:

“É com certeza um ativo muito interessante para um investidor de longo prazo como nós. Lá fora, os alternativos são parte relevante do portfólio”, diz ele.

O executivo complementa: “Estamos analisando os processos de governança que iremos adotar para voltar a ter esse tipo de investimento. Vamos olhar porque os juros um dia vão cair e precisamos estar preparados”.

Werneck também diz que está olhando a ampliação de exposição a renda fixa em crédito privado, enquanto os multimercados estão tendo dificuldade de obter retorno em um cenário incerto. Um ambiente que, mesmo com a queda recente e prevista da taxa de juros, segue favorável à renda fixa.

Mas, sobre o tão aguardado avanço para o exterior, classe de ativos que a fundação estreou em 2022 e vem timidamente crescendo em seu portfólio, por meio de sua área de fund of funds (hoje com 0,4% de participação), ele diz que estão se posicionando. Mas com muita calma porque o câmbio não ajuda e sem um grande salto na exposição.

“O mercado internacional é importante pela diversificação de moeda e de setores, porque o brasileiro ainda é raso. Mas vem com ele um risco cambial elevado para quem tem compromissos em reais. Eu entro quando achar que vou ter retorno. Da mesma forma que vou olhar crédito, gestores quânticos e qualquer outro ativo”, diz Werneck.

Ele complementa: “A Faria Lima quer vender esse ou aquele produto, mas precisam entender os objetivos da fundação. Nós fazemos wealth management: não ganho taxa de performance. Se o retorno for muito maior do que eu preciso, não é necessariamente bom”.

A Petros também prepara o lançamento dos planos com perfis de investimentos, que vão permitir ao participante escolher o plano que mais se adequa ao seu apetite de risco: conservador, moderado ou agressivo, por exemplo.

Os estudos de implementação estão sendo feitos, mas ainda não há uma data para o lançamento. Essa inovação já está disponível em outras fundações e pode mudar os objetivos de investimento de um plano para se adequar ao perfil solicitado, e também a relação do participante com o seu plano complementar de aposentadoria.