Setembro foi o mês de melhor resultado na história da Nau Capital. Fundada em 2020, a empresa de investimentos vinculada à XP com foco no público private fechou desde então sete deals de coinvestimentos que totalizam R$ 1,5 bilhão e estruturou R$ 200 milhões em dívidas.

O motivo para esse desempenho vem de uma transformação no negócio. Os sócios fundadores Evandro Bertho, Daniel Prado e Nathalia Paulino, que fizeram carreira no BTG, decidiram dar um passo em direção à governança corporativa e contrataram executivos profissionais para tocar a empresa.

Rafael Vieira Morentzsohn e João Paulo Maluf chegaram estão há cerca de seis meses ocupando as cadeiras de CEO e CFO, respectivamente. O objetivo da profissionalização da gestão do negócio foi “liberar” os sócios-fundadores a se reaproximarem dos clientes e passarem a se dedicar às suas áreas de negócios.

“Estamos no processo de transformação de um escritório de assessoria em uma empresa”, diz Morentzsohn, ao NeoFeed. “Formamos a estrutura de executivos que estão focados em resultados e expansão para deixar cada pessoa responsável pela sua melhor função. E já estamos colhendo frutos disso.”

Com R$ 5,5 bilhões sob custódia e gestão, a Nau passou a ter um fluxo de caixa dividido por unidades de negócios. A organização da empresa está sob as verticais de wealth management, estruturação de dívida e deals alternativos e gestão offshore. E mesmo nesse pouco tempo de profissionalização, hoje a empresa tem previsibilidade das suas receitas e sabe de onde elas estão vindo.

“Começamos a sentir as dores do crescimento e realizamos que o valor da nossa empresa não está em processos de escala, mas em ter pessoas que são capazes de gerar valor para o cliente sofisticado”, diz Evandro Bertho, sócio-fundador da Nau Capital.

“Aprendemos que se pessoas certas não estão focadas em fazer isso, não temos nada”, complementa ele, que é o responsável pela unidade Wealth .

Até tomar a decisão de contratar formalmente um CEO e um CFO, todas as decisões da Nau Capital eram tomadas de forma colegiada entre os principais sócios, estrutura que demandava um grande tempo deles e tirava o foco da operação em suas áreas de expertise.

A “gota d’água” foi a fusão com a assessoria Avant em março de 2023, que demandou tanto tempo de integração que os sócios se viram improdutivos. Curiosamente, a solução também estava nesse M&A.

Morentzsohn veio no “pacote Avant”. Ele foi um dos condutores da fusão das assessorias, mas trazia um histórico mais extenso: trabalhou na Usiminas por sete anos e em 2019 ingressou no mercado financeiro desenvolvendo deals de private equity e imobiliários.

A cultura que está sendo criada foge dos padrões dos escritórios de investimentos. A Nau quer que as decisões estratégicas sejam baseadas em dados e que os executivos tenham autonomia para tomar decisões sem os sócios, como acontece no mundo corporativo de grandes empresas.

Como resultado dessa profissionalização a empresa cresceu o seu total sob gestão e aumentou as receitas em 40% desde o fim do ano passado. Passando a ser alta geradora de caixa, a Nau Capital pretende crescer e chegar a R$ 15 bilhões sob gestão em três a quatro anos.

A Nau quer atrair com esse modelo os melhores profissionais e também vê a possibilidade de expandir inorganicamente, conquistando escritórios que possuem bons talentos profissionais, mas que não conseguiram organizar a empresa para crescer.

Um estudo da consultoria AAWZ mostrou que em 2022 80% das assessorias, segundo a amostra, fecharam o ano no vermelho por falta de foco em lucro. Em 2023, a maioria buscou reequilibrar as contas e conseguiu. Ao mesmo tempo, outro estudo mostra que muitas empresas estão buscando se juntar com outra casa.

Segundo Bertho, muitos escritórios com excelentes profissionais na sua linha de atuação não conseguem crescer porque os sócios não têm habilidade ou experiência para tocar o negócio. E, em uma indústria em que o principal ativo são boas pessoas, atraí-los para uma estrutura mais organizada é uma oportunidade.

“Acreditamos que podemos consolidar o mercado de assessoria voltado para o público private, pois o mercado está passando por um processo de amadurecimento em que apenas crescer a custódia já não significa nada”, diz Bertho.