A moda dos patinetes elétricos parece ter ficado de vez no passado. Pioneira no setor, startup americana Bird Global está à beira da falência. Nesta quarta-feira, 20 de dezembro, a companhia recorreu ao Chapter 11 – instrumento da Justiça americana que é semelhante ao pedido de recuperação judicial no Brasil.
O pedido de recuperação judicial acontece cinco anos após a companhia se tornar um unicórnio. Fundada em setembro de 2017, a companhia atingiu valuation de US$ 1 bilhão em junho do ano seguinte após levantar US$ 150 milhões em rodada de série C liderada pela Sequoia Capital.
A expectativa para que a startup ingressasse no Chapter 11 estava no ar pelo menos desde setembro, quando a bolsa de valores de Nova York suspendeu as negociações das ações da companhia que estava listada desde 2021. Avaliada em apenas US$ 6,6 milhões, a startup já perdeu 99,8% de valor de mercado.
Ainda assim, a empresa se recusa a desligar os motores. “Estamos progredindo em direção à lucratividade e pretendemos acelerar esse progresso dimensionando corretamente nossa estrutura de capital por meio desta reestruturação”, disse o presidente interino da Bird, Michael Washinushi, na quarta-feira.
De acordo com o que foi apresentado no pedido de recuperação judicial, a Bird pretende operar normalmente durante a reestruturação. A companhia também informou que os credores estão trabalhando com uma oferta stalking horse – o que significa a provável venda de ativos da companhia.
Segundo a Bird, o processo de venda pode ocorrer em até 120 dias. A empresa também disse que os negócios na Europa e no Canadá não fazem parte do pedido ingressado no Chapter 11.
Fundada por Vander Zanden, um ex-executivo da Uber e da Lyft, a Bird se tornou um símbolo das empresas que operavam com a locação de patinetes elétricos. Ao redor do mundo surgiram startups com negócios semelhantes. A principal iniciativa no Brasil foi a Yellow, da dupla ex-99 Ariel Lambrecht, Renato Freitas e o empresário Eduardo Musa. O negócio também não deu certo.
O problema para essas empresas é que as operações não paravam de pé financeiramente e enfrentavam desafios regulatórios. Em São Paulo, uma medida municipal passou a obrigar o uso de capacetes por quem usava os patinetes. Na época, a Grow (que foi criada com a fusão da mexicana Grin com a Yellow) criticou a medida.
A Bird também sentiu esses impactos. No começo deste ano, o uso de patinetes elétricos foi proibido em Paris. Os patinetes foram retirados das ruas parisienses no começo de setembro. A chegada do inverno europeu (e de ruas escorregadias com a neve) é outro problema.
Isso tudo impactou ainda mais as finanças da Bird. A companhia informou no mês passado que teve prejuízo líquido de US$ 73,4 milhões nos primeiros nove meses deste ano. Em caixa, a companhia tinha cerca de US$ 10,2 milhões. No ano passado a startup teve receita de US$ 244,7 milhões e prejuízo líquido de US$ 358,7 milhões. Nos nove primeiros meses deste ano, as perdas somaram US$ 73,4 milhões.
Na quarta-feira, a Bird disse que levantou US$ 25 milhões em financiamento de credores junto a MidCap Financial, braço da Apollo Global Management. Entre os credores estão Amazon, a empresa de análise de dados Palantir, a fabricante chinesa de scooters Ninebot e a plataforma de gestão de frotas Zoba.
A Bird ainda informou que a rival europeia Tier detém mais de 10% de participação acionária em sua operação. A Tier, que em setembro adquiriu a concorrente Spin por US$ 19 milhões, é uma das investidas do Softbank. A companhia já levantou mais de US$ 660 milhões junto a investidores e operações de dívida. Em 2021, a empresa foi avaliada em mais de US$ 2 bilhões.