A Guerra Fria foi o período de reconstrução da Europa Ocidental, apoiada financeira e economicamente pelos Estados Unidos. Embora distante, o economista italiano Mario Draghi, ex-primeiro ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) citou o período pós-Segunda Guerra Mundial para contextualizar a dificuldade atual do continente.
“Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer por nossa sobrevivência, e a necessidade de uma resposta unificada nunca foi tão grande”, afirmou Draghi.
O ex-premiê italiano apresentou um relatório de cerca de 400 páginas em Bruxelas com cerca de 170 propostas para aumentar a competitividade da União Europeia (UE).
Nas últimas semanas, a indústria de vários países do continente vem “acusando o golpe” do avanço dos investimentos em pesquisa e tecnologia na China e nos Estados Unidos. A Volkswagen, por exemplo, cogita fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em sua história.
As principais recomendações do relatório entregue por Draghi incluem o relaxamento das regras de concorrência para permitir a consolidação do mercado em setores como telecomunicações; integração dos mercados de capital por meio da centralização da supervisão do mercado; maior uso de compras conjuntas no setor de defesa; e uma nova agenda comercial para aumentar a independência econômica da UE.
Atualmente, apenas quatro empresas europeias estão entre as 50 maiores de tecnologia do mundo. Draghi reforça que o continente ficando para trás em áreas como serviços em nuvem ou inteligência artificial. E é preciso aumentar o investimento para empresas inovadoras e o gerenciamento dos direitos de propriedade intelectual.
Draghi disse que lidar com a competitividade atrasada da UE exigiria € 750 bilhões a € 800 bilhões (aproximadamente R$ 5 trilhões) em investimentos anuais, mas que é “improvável que o setor privado consiga financiar sozinha sem o apoio do setor público”.
Esse montante é mais que o dobro do Plano Marshall. E, na proposta de Draghi, a participação dos investimentos no PIB da UE precisa aumentar dos atuais 22% para cerca de 27%, “invertendo um declínio de décadas na maior parte das grandes economias europeias".
A proposta do ex-presidente do BCE é controversa, tanto que França e Itália se mostraram favoráveis, ao contrário de Alemanha e Holanda, que temem ter de “pagar a conta” com contribuições desproporcionais.
“A menos que a Europa consiga aumentar seus níveis de produtividade e crescimento, corre o risco de ver seus padrões de vida declinarem”, disse Draghi. "Teremos de reduzir algumas, se não todas, as nossas ambições. Esse é um desafio existencial."