A Volkswagen está enfrentando uma das maiores crises de sua história. Depois de perder, em 2023, a liderança de vendas na China – seu maior mercado, que responde por cerca de 40% de suas vendas globais e metade de seus lucros –, a montadora alemã anunciou esta semana que poderá fechar fábricas no país onde foi fundada, em 1937, admitindo que vive uma “situação grave”.

Se a possibilidade for confirmada, seria a primeira vez que a Volkswagen fecharia fábricas na Alemanha. A montadora possui 10 marcas, incluindo Audi, Porsche e Lamborghini, mas sua marca principal continua sendo fundamental para sua identidade e a história da Alemanha como uma nação automobilística.

Segunda maior montadora do mundo, os problemas da VW não são recentes, mas as perdas em vendas e de mercado, principalmente na China, levaram a gigante alemã a prever fechar 2024 com US$ 500 milhões de prejuízo, o que levou à decisão de adotar medidas radicais.

"A indústria automotiva europeia está em uma situação muito exigente e séria", disse Oliver Blume, presidente-executivo da Volkswagen, em comunicado divulgado na segunda-feira, 2 de setembro. "A Alemanha, em particular, como local de fabricação, está ficando cada vez mais para trás em termos de competitividade. Nesse ambiente, nós, como empresa, devemos agora agir de forma decisiva."

A montadora alemã está enfrentando dois desafios relacionados à concorrência - um fora de seu controle e outro causada por sua forma de gestão. De um lado, as montadoras chinesas estão tirando participação de mercado da VW na China. As vendas da empresa no país asiático caíram de 4 milhões, em 2017, para cerca de 2,5 milhões em 2024. E seus concorrentes chineses estão trazendo veículos elétricos baratos para outro mercado crítico para a montadora alemã: a Europa.

Outra parte do problema, que explica a atual crise, é que a VW é uma empresa inchada em comparação com seus concorrentes. A montadora alemã tinha cerca de 684 mil funcionários em 2023. Isso é cerca de 309 mil a mais do que a sempre eficiente Toyota, que por sinal vendeu cerca de 2 milhões de veículos a mais do que a VW em todo o mundo no ano passado.

Esse inchaço refletiu na margem de lucro da marca, que caiu de 3,8% em 2023 para 2,3% no primeiro semestre de 2024, movendo-se na direção errada da meta de longo prazo da empresa, de obter margem de 6,5% - daí a tentativa drástica de cortar custos.

Por outro lado, a VW não está apenas enfrentando problemas operacionais e aumento da concorrência nos principais mercados - ela também está ficando para trás em tecnologia, o que a levou a buscar uma reação, firmando joint ventures nos EUA e na China.

A rápida perda de espaço no país asiático – onde liderou as vendas por 38 anos – acompanhou o avanço das marcas chinesas, em especial dos modelos elétrico e de plug-in, que já respondem por 50% do mercado nacional de carros novos. As marcas chinesas deixaram a Volkswagen comendo poeira, emplacando 18 entre os 20 modelos mais vendidos (os outros dois são da Tesla).

Há pouco mais de um ano, a montadora alemã reagiu comprando quase 5% da fabricante chinesa de veículos elétricos Xpeng por US$ 700 milhões. O acordo prevê o desenvolvimento de dois novos veículos elétricos (EVs) de médio porte da marca VW para o mercado chinês, a serem lançados em 2026. A subsidiária Audi do grupo alemão também trabalhará mais estreitamente com sua parceira, a SAIC Motor, a maior montadora da China.

Nos EUA, a estratégia mal deu a largada e já começa a derrapar. O objetivo era impactar o mercado americano com o lançamento, ainda este ano, da versão elétrica do ID. Buzz, seu famoso micro-ônibus.

O entusiasmo esfriou no final de agosto, quando a montadora anunciou o preço inicial, cerca de US$ 60 mil, e o desempenho da bateria - com 100% de carga. Os modelos de tração nas quatro rodas 4Motion oferecerão 231 milhas de alcance estimado pela EPA (órgão ambiental dos EUA), abaixo da autonomia esperada de 234 milhas.