O momento é desafiador tanto para as grandes montadoras como para as startups de carros elétricos. Nesse contexto, duas representantes desses elos da cadeia decidiram unir forças para que seus negócios ganhem, enfim, tração nesta pista.

A Volkswagen e a Rivian anunciaram na noite de terça-feira, 25 de junho, um plano para a criação de uma joint venture focada no desenvolvimento de softwares baseados na arquitetura da startup americana, que serão embarcados nos veículos elétricos de ambas as empresas.

Cada companhia terá uma fatia de 50% na operação e seguirá tocando seus respectivos negócios na categoria separadamente. A joint venture inclui ainda um investimento inicial de US$ 1 bilhão da Volkswagen, além de um aporte adicional de até US$ 4 bilhões da montadora alemã.

“Por meio de nossa cooperação, traremos as melhores soluções para nossos veículos com mais rapidez e menor custo”, afirmou, em nota, Oliver Blume, CEO da Volkswagen. “Estamos fortalecendo nosso perfil de tecnologia e nossa competitividade.”

Fundador e CEO da Rivian, Robert Scaringe, ressaltou o fato de um grupo do porte da Volkswagen estar reconhecendo o diferencial da plataforma tecnológica da empresa. Ele também destacou um dos principais racionais do acordo sob a ótica da startup.

“A expectativa não é apenas de que essa parceria leve nosso software a um mercado ainda mais amplo por meio do alcance global do grupo Volkswagen, mas também, que isso ajude a assegurar nossas necessidades de capital para um crescimento substancial”.

No balanço entre esses dois discursos, a reação inicial no mercado de capitais trouxe caminhos opostos para as ações das duas parceiras. No caso da Rivian, o anúncio deu a partida para um rali nas ações da startup, que abriram o dia na Nasdaq em alta de 25% e chegaram a subir mais de 30%.

Por volta das 12h05 (horário local), os papéis registravam alta de 23,96%, dando à companhia um valor de mercado de US$ 14,7 bilhões. Já as ações da Volkswagen, avaliada em € 54,7 bilhões, recuavam 1,64% no mesmo horário, cotadas a € 104,80.

A injeção bilionária de capital ajuda a explicar a disparada nas ações da Rivian. Fundada em 2009 e conhecida por seus SUVs e picapes elétricas, a empresa atraiu investidores como T.Rowe Price, Amazon e Ford, antes de abrir capital, em 2021, na trilha do burburinho em torno dos carros elétricos.

Entretanto, passado esse boom, a companhia engatou uma marcha mais lenta, assim como boa parte dos seus pares. E, apesar de reconhecida pela qualidade dos seus carros, a empresa vinha sofrendo com a falta de capital e a queima de caixa para produzi-los, o que a colocou sob os holofotes do mercado.

Em dezembro de 2023, por exemplo, uma análise do The Wall Street Journal cobriu 43 startups de carros elétricos que abriram capital entre 2020 e 2022. O estudo apontou a Rivian, cujo IPO foi realizado em 2021, como um dos nomes que ficariam sem recursos para operar até o fim desse ano.

“Essa notícia é significativamente positiva para a Rivian, pois o acordo deve oferecer à empresa acesso a capital não apenas para financiar o aumento da produção do R2 em suas instalações, mas também construir uma nova fábrica”, escreveu John Murphy, analista do Bank of America, em relatório.

Ele também pontuou que esses recursos serão “valiosos” para que Rivian alcance a escala necessária e reporte um fluxo de caixa livre positivo. E acrescentou que o acordo carrega benefícios como redução de custos e eficiência operacional, o que pode acelerar o percurso para margens brutas mais elevadas.

Moeda de troca da Rivian na joint venture, a tecnologia desenvolvida pela Rivian vem embalada, por sua vez, com o potencial de ser um atalho para a Volkswagen. Sem grandes problemas de caixa, a gigante alemã, em contrapartida, ainda enfrenta problemas no desenvolvimento de softwares para a categoria.

Enquanto os demais componentes de seus veículos elétricos mais recentes, como o ID.4, têm sido alvo de elogios, os softwares embarcados em seus modelos, entre eles, o de informação e entretenimento, vêm recebendo críticas, especialmente em mercados como a China.

No país asiático, em 2023, em um dos trajetos para superar esses obstáculos, a Volkswagen anunciou um aporte de US$ 700 milhões na chinesa Xpeng, em troca de uma fatia minoritária e da parceria para o desenvolvimento de carros elétricos. Outros acordos semelhantes foram fechados pelo grupo naquele mercado.

Já na parceria com a Rivian, além de embarcar os sistemas que serão desenvolvidos em seus carros elétricos no futuro, a joint venture envolve, no curto prazo, a adoção dos softwares já criados pela Rivian nos modelos existentes da Volkswagen.

Um dos possíveis entraves apontados por analistas nesse roteiro, porém, é o risco de que essas parcerias, somadas aos investimentos da Volkswagen “dentro de casa”, tragam mais complexidade e custos para a montadora.