Do calor do deserto ao frio do Ártico, passando pelas vias submarinas dos oceanos, os cabos estão por toda parte do mundo, sejam eles grandes, pequenos, visíveis ou invisíveis.
Nesse mercado há quase 70 anos, a alemã Lapp vem ampliando sua presença global e escolheu o Brasil para dar seu próximo passo em seu projeto de expansão.
Como parte dessa estratégia, a companhia anuncia na quinta-feira, 3 de julho, a compra da Eurocabos, empresa brasileira criada em 2001 e com sede em Diadema. Seu portfólio abrange cabos para automação, controle, energia, uso móvel, robótica, fibras ópticas e redes industriais, além de acessórios como conectores e cordsets.
O grupo alemão, que encerrou o ano passado com faturamento de € 2 bilhões e mais de 5.700 funcionários globais, estava em busca de uma aquisição no Brasil, mas faltava encontrar a “empresa certa” e disposta a vender o controle.
"Nosso plano estratégico 2027 prevê crescimento fora da Europa Central e dos mercados já consolidados. Isso inclui Ásia, África e, claro, América Latina. Por isso, investimos agora no mercado brasileiro. O Brasil é uma das maiores economias do mundo. Não tem como não investir e olhar com atenção”, diz Matthias Lapp, chairman da companhia, em entrevista ao NeoFeed
Presente no país desde 2002, essa é a primeira aquisição da Lapp no Brasil e a segunda em cerca de um mês — a última foi a compra da Cableforce Electronics, na China. Nenhuma das operações teve o valor revelado.
A Lapp tem 26 unidades industriais e parte da produção é terceirizada. O modelo, focado no desenvolvimento e controle de qualidade, contribuiu para a diversificação geográfica da empresa, que está em 80 países. Em 2014, a Lapp chegou a abrir uma fábrica própria na Bahia.
Apesar do investimento de R$ 50 milhões para colocar a unidade de pé, a operação foi encerrada em 2018, com sua produção sendo mantida no Brasil apenas via parceiros.

O modo de operação é semelhante ao da Eurocabos, o que explica seu quadro enxuto. São apenas 30 funcionários, mesma quantidade que a Lapp mantinha no Brasil. Com a aquisição, portanto, a companhia alemã dobra sua equipe no País.
Toda a equipe da Eurocabos será incorporada, inclusive os antigos sócios Ricardo Chammas, Eduardo Chammas e Luciana Chammas De Sillos. O NeoFeed apurou que a receita anual da companhia gira em torno de R$ 30 milhões anuais (as duas empresas não confirmam).
“Isso é importante não só para garantir uma transição suave, mas também porque eles enxergam potencial de fazer o negócio crescer ainda mais. Querem continuar no negócio”, diz Lapp.
De capital fechado, a empresa é 100% controlada pela família fundadora. Segundo Mathias Lapp, neto do fundador Oskar Lapp, o perfil também familiar da Eurocabos contribuiu para o sucesso do negócio.

“Como uma empresa familiar, estávamos buscando um encaixe também familiar. Ao olhar para a Eurocabos, que é uma companhia de família como nós, vimos a oportunidade de unir forças e aproveitar o conhecimento dos dois lados”, afirma o chairman.
Além do peso industrial do País, a Lapp vê no Brasil um terreno fértil em setores que estão se sofisticando e exigindo soluções de alta performance — caso da automação industrial, que hoje incorpora sensores e sistemas inteligentes em praticamente toda máquina.
“Cada fabricante adiciona sensores que medem velocidade, peso, e geram dados que precisam ser transportados para sistemas de análise e inteligência artificial”, diz Lapp.
“É aí que nossos cabos entram, levando energia, sinais e dados do ponto A ao B. Gostamos de encontrar soluções complexas para os cabos, que é onde nos diferenciamos. O cobre é sempre cobre, mas há uma tecnologia em volta”, complementa.
Os data centers também são um vetor importante, acompanhando o avanço do consumo digital e dos serviços em nuvem no país. No radar estão ainda projetos de energia renovável, sobretudo eólica e solar, e as indústrias de alimentos e bebidas, onde a Lapp já tem forte presença global.
A estimativa é de que a indústria de cabos e conectores cresça dos atuais US$ 228 bilhões para US$ 298 bilhões até 2029. “O mercado brasileiro está crescendo, e esses setores devem impulsionar ainda mais a demanda por soluções como as nossas”, afirma.
Com presença mundial, a Lapp busca manter a produção o mais próxima possível de seus clientes. Além de economizar com fretes e tarifas, Matthias explica que isso permite maior personalização dos produtos às necessidades locais. Essa vantagem, comenta, é ainda mais relevante no atual cenário de incertezas sobre tarifas comerciais.
Ele lembra que empresas alemãs como a Lapp cresceram alavancadas pela globalização e pelo comércio livre, mas que o modelo de ter fábricas espalhadas pelo mundo hoje serve também como proteção contra guerras comerciais e tensões entre países. ”Como produzimos nos Estados Unidos e não dependemos tanto de produtos importados, não somos tão afetados pelas taxas. Isso vale também para os outros mercados”, afirma.
Na América Latina, a Lapp também tem presença no Panamá, mas quer utilizar a vertical brasileira para fomentar novas oportunidades na região. “É um investimento que não deve alcançar somente o Brasil. Pensamos em expandir pelo Mercosul e América do Sul, onde nós queremos crescer. Vemos esta como uma das maiores oportunidades do grupo Lapp.”